Necromancia

Segundo referências da língua portuguesa, necromancia é a
"suposta previsão do futuro através da comunicação com o espírito dos
mortos". A origem etimológica remete-se ao grego: necro = morte e mancia =
adivinhação.
Porém, por um ponto de vista mais objetivo, a
necromancia, também conhecida como nigromancia, é, de uma forma bastante
simplificada, uma prática de fundamento ocultista que busca manter contato com
a alma dos mortos através de uma ritualização determinada, com o objetivo de
elaborar previsões, obter aconselhamentos e orientações das almas na vida
cotidiana ou até mesmo escravizá-las. Pois, há uma suposta crença que os
mortos, por não estarem mais limitados à condição terrena, têm uma percepção
mais apurada e a propriedade de predizer o futuro.
Há várias suposições a respeito de sua origem histórica.
Mas é mais provável que tenha surgido no período pré-cristão nas crenças entre
os povos asiáticos, principalmente os persas. No entanto, há também referências
históricas entre os romanos e os gregos, e até mesmo entre os aborígenes
americanos. Dessa forma, a Necromancia não está associada a nenhuma doutrina
religiosa específica; sendo comum encontrá-la citada, com algumas variações não
muito significativas, em diversas ramificações do ocultismo, em períodos
cronológicos distintos e culturas distantes.
Mesmo as populares religiões afro-brasileiras têm em seus
ritos evocações aos espíritos dos mortos; quando, por exemplo, o sacerdote
recebe o espírito de uma entidade; ou seja, de alguém já falecido. Porém, se
aplicarmos o mesmo raciocínio rígido, qualquer evocação à espíritos de mortos
(como encontrada também no Espiritismo e em cerimônias xamânicas) é uma forma
de prática necromante.
Rituais
Assim como em outras práticas ocultistas, a
Necromancia reúne uma série de elementos necessários em seu cerimonial de
evocação que costumam se estender por horas: cânticos, instrumentos,
vestimentas e objetos que trazem uma representação simbólica; além de horários
e dias específicos e outras referências que o praticante deve observar. Dessa
forma, segundo as tradições necromantes, é possível promover uma conexão
espiritual com a alma dos mortos que ainda mantém-se retidas num plano
inferior. Esse contato só seria possível com almas recém desencarnadas ou que estejam
vulneráveis no plano espiritual; ou seja, que ainda não tenham sido conduzidas
ao Reino Divino. Contudo, a Necromancia, em sua acepção mais pura e antiga,
traz alguns aspectos mais macabros que outras práticas adivinhatórias.
O uso de cadáveres, ou de, no mínimo, partes do corpo
como ossos, dentes, unhas, pêlos e fios de cabelo, é comum à Necromancia. Neste
momento não há simbolismos ou representações alegóricas. A presença física de
um cadáver ou de seus restos mortais é freqüente nos rituais; pois, é o
espírito daquele corpo que será evocado. Ainda, objetos pessoais do falecido,
terra da sepultura ou fragmentos da lápide ou do esquife também são utilizados.
Em relatos mais surpreendentes, o cadáver seria capaz de falar por si próprio.
Em outras situações, a alma do falecido toma posse temporariamente do corpo de
um dos praticantes. Enquanto que cerimônias ritualísticas em cemitérios com a
violação de túmulos e a mutilação de cadáveres poderiam ser atividades
corriqueiras aos praticantes da antiguidade.
Por outro lado, as evocações de caráter mais simbólico
utilizam a Tábua de Ouija para interpretar as mensagens recebidas do além. Até
mesmo o popular "jogo do copo", que se utiliza de um copo de cristal
com sua abertura voltada para a superfície de uma mesa, sendo levemente
conduzido pelos participantes, que seguem a orientação do espírito evocado, em
direção à letras e números escritos em pedaços de papel e previamente
distribuídos em círculo. Ainda, pêndulos e cartas também podem ser instrumentos
de comunicação e interpretação para com os espíritos.
Entretanto, tais práticas geram uma grande exaustão em
seus participantes e são extremamente perigosas senão forem bem conduzidas.
Segundo os grimórios que abordam o tema, os praticantes estão sujeitos à possessões
demoníacas, danos físicos e psicológicos permanentes, entre outros. Por este
motivo, as cerimônias devem ser administradas somente por pessoas experientes e
bem preparadas.
Citações Históricas
Umas das citações históricas mais recorrentes que pode
ser interpretada como uma referência à Necromancia está na própria Bíblia. No
primeiro Livro de Samuel, capítulo 28, quando o Rei Saul recorre à feiticeira
de Em-Dor para comunicar-se com o falecido profeta Samuel, que prevê a morte de
Saul. No Livro de Isaías (8:19/20) a citação é mais clara: "Porventura
não consultará o povo a seu Deus? A favor dos vivos consultar-se-á aos mortos?
A lei e ao testemunho! Se eles não falarem segundo esta palavra, é porque não
há luz neles". No apócrifo Macabeu II, há também uma citação direta a
respeito do contato com os mortos.
Ainda, grandes nomes do ocultismo, como John Dee, Eliphas
Levi e, obviamente, São Cipriano, teriam se envolvido com práticas
necromantes.
De qualquer forma, a Necromancia, apesar de ser vista
como uma aberração, é muito mais freqüente nos dias de hoje do que se possa
supor, pois atende a uma curiosidade intrínseca ao ser humano: saber o que há
"do outro lado".