A bruxa que é boa e má: Baba Yaga!
No folclore eslavo, Baba Yaga (em russo: Баба-яга; romaniz.:
Baba-yaga; também chamada Baba Jaga em polonês, jězě em tcheco e eslovaco e
Jaga Baba em esloveno) é um ser sobrenatural (ou um trio de irmãs com o mesmo
nome) que tem a aparência de uma mulher deformada e/ou feroz e que voa pelos
céus montada num almofariz, apagando os rastros que deixa com sua vassoura.
Mora no interior da floresta numa casa apoiada sobre pés de galinha (ou apenas
sobre um pé, em algumas versões), e cuja fechadura é uma boca cheia de dentes.
A Baba Yaga pode ajudar ou dificultar aqueles que a encontram ou a procuram.
Ela às vezes desempenha um papel maternal, e também tem associações com a vida
selvagem da floresta. De acordo com a morfologia folclórica de Vladimir Propp,
a Baba Yaga comumente aparece como uma doadora (nos contos de fadas) ou vilã,
ou pode ser completamente ambígua. Andreas Johns identifica a Baba Yaga como
"uma das figuras mais memoráveis e distintas no folclore europeu
eslavo", observa que ela é "enigmática" e muitas vezes exibe uma
"ambiguidade surpreendente".
Johns resume Baba Yaga como "uma figura multifacetada,
capaz de inspirar pesquisadores a vê-la seja como Nuvem, Luz, Morte, Inverno,
Cobra, Pássaro, Pelicano ou Deusa da Terra, ancestral matriarcal totêmica,
iniciadora fêmea, mãe fálica, ou imagem arquetípica".
Isaac Bashevis Singer descreveu Baba Yaga com um nariz
vermelho arrebitado, narinas largas e ardentes, olhos em chama como carvão em
brasa e com cardos a sair do crânio em vez de cabelos. Singer referiu também a
existência de babas menores e de pequenos demônios chamados dziads. Ajuda os
puros de coração e devora os impuros.
Segundo o linguista germano-russo Max Vasmer o nome
Baba-yaga poderia ter derivado do proto-eslavo ęgа, "dor". Baba nas
línguas cirílicas significa "avó", enquanto Yaga é o diminutivo de
Yadviga, nome eslavo derivado do alemão e equivalente ao antropônimo/topônimo
Edviges.
O termo Baba tem sido usado tanto para "avô" quanto
para "mulher" nas línguas búlgara, macedônia, romena e servo-croata.
No russo moderno a palavra бабушка (babushka), que significa "avó",
deriva dela, tal como a palavra babcia (que também significa "avó")
em polonês, ou бабця (babtsya) em ucraniano. Baba tem sido também uma palavra
de conotação pejorativa no ucraniano e russo modernos, tanto para mulheres como
para "um homem delicado, tímido, ou sem caráter". No polonês o termo
também é considerado pejorativo, significando "uma mulher viciada ou feia".
Já no sânscrito, Baba significa "velha" ou
"sábia" e Yaga vem de "Yajna" da tradição védica está
relacionado ao fogo, ao sacrifício, e também a "Ahi" que seria
"serpente" ou "mulher". O significado de Baba Yaga então
estaria relacionado a "Sábia do Fogo" ou "Sábia da
Transformação" – a transformação tem a ver com o sacrifício, o ato de se
livrar daquilo que não mais a pertence. Comparando a outras traduções (como as
relatadas abaixo) pode-se entender o significado dessa mulher sábia entrelaçado
e relatado como "bruxa".
Termos relacionados ao segundo elemento do nome, Yaga,
aparece em várias línguas eslavas: a palavra sérvio e croata jeza
("horror", "arrepio", "calafrio"), esloveno jeza
("raiva"), checo antigo jězě ("bruxa"), checo moderno
jezinka ("dríade"), e polonês jędza ("bruxa",
"fúria"). O termo aparece no eslavônico eclesiástico como jęza ou
jędza ("doença", "enfermidade"). Em outras línguas
indo-europeias o elemento iaga tem sido ligado ao lituano engti
("oprimir", "enganar"), inglês antigo inca
("dúvida", "aflição", "dor"), e o nórdico ekki
("aflição").
Uma variedade de etimologias tem sido proposta para o
segundo elemento do nome, Yaga, que ainda continua problemática, contudo um
claro consenso entre estudiosos teve resultado relativamente satisfatório. Um
exemplo disso é que no século XIX (19) Alexander Afanasyev propôs a derivação
do eslavo *ǫžь ("serpente") e do sânscrito अहि, ahi ("serpente",
"cobra"). Esta etimologia tinha sido subsequentemente explorada por
outros estudiosos no século XX.
Originalmente concebida como uma entidade benfazeja, ao
longo do tempo foram lhe atribuindo um caráter sinistro.
A primeira referência clara a Baba Yaga (Iaga baba)
aconteceu em 1755, em Rossiiskaya grammatika ("Gramática russa") de
Mikhail V. Lomonosov.
Na gramática de Lomonosov, Baba Yaga é mencionada duas vezes
ao lado de outras figuras em grande parte da tradição eslava. A segunda das
duas menções ocorre dentro de uma lista de deuses eslavos e de seres
provavelmente equivalentes na mitologia romana (o deus eslavo Perun, por
exemplo, aparece equiparado ao deus romano Júpiter). Baba Yaga, no entanto,
aparece em uma terceira seção sem uma equivalência, atestando a percepção de
sua singularidade, mesmo conhecida nesta primeira prova.
Nas narrativas em que Baba Yaga aparece, ela exibe uma
variedade de atributos típicos: uma cabana giratória, com pernas de galinha; um
almofariz, um pilão, e às vezes uma vassoura ou um esfregão. Baba Yaga
frequentemente carrega o epíteto de "perna óssea" (em russo: Баба-Яга
Костяная Нога; romaniz.: Baba Iaga Kostianaya Noga), e quando está dentro de
sua moradia, ela pode ser encontrada estendida sobre o forno, alcançando de um
canto a outro da cabana. Baba Yaga pode perceber o "cheiro russo"
(русский дух, russky dukh) daqueles que a visitam. Seu nariz pode se fixar no
teto. Alguns narradores poder dar uma ênfase particular sobre a repulsividade
de seu nariz ou outras partes do seu corpo.
Em alguns contos um trio de Baba Yagas se apresentam como
irmãs (todas tendo o mesmo nome). Por exemplo, na versão de The Maiden Tsar
coletado no século XIX por Alexander Afanasyev, Ivan, um filho de um
comerciante bonito, faz o seu caminho para a casa de uma das três Baba Yagas.
Na cultura popular
Em filmes e séries
No filme Lawn Dogs (Inocência Rebelde) o conto folclórico de
Baba Yaga é usado como um proeminente dispositivo para o enredo.
David Harbour como Hellboy (Anung Un Rama), no filme Hellboy
enfrenta Baba Yaga, em sua casa com pernas.
No filme John Wick (De Volta ao Jogo), o personagem John
Wick (Keanu Reeves) era conhecido no passado pelo apelido de "Baba
Yaga". Seu antigo chefe, Viggo Tarasov (Michael Nyqvist) o considerou como
seu melhor assassino. John conseguiu sua aposentadoria, após ajudar Viggo a
ganhar o controle de seu sindicato, eliminando, sozinho, toda a concorrência,
uma tarefa que Viggo considerou "impossível".
No filme Ant-Man and the Wasp (Homem Formiga e a Vespa), o
personagen Kurt (David Dastmalchian), faz a comparação entre a vilã Fantasma
com Baba Yaga. Quando o personagem Luis (Michael Peña) está contando a história
de como conheceu o personagem Scott, Fantasma também escuta a conversa, só que
invisível. Quando a vilã finalmente se revela, Kurt entra em desespero e começa
a gritar que a Baba Yaga estava lá.
Baba Yaga é mencionada no segundo episódio da quinta
temporada de Orphan Black, quando Helena ameça Donnie Hendrix de ter o coração
devorado por Baba Yaga se ele revelar um segredo que ela confia a ele.
Uma mulher possuída pela espírito e Baba Yaga aparece em um
episódio da quarta temporada da série The Magicians. A personagem pede
artefatos mágicos como pagamento do aluguel de uma casa com proteções mágicas.
Na segunda temporada do spin-off da série de animação Winx
Club WOW: World of Winx (O Clube das Winx: Mundo das Winx), Baba Yaga aparece
como uma antagonista secundária disfarçada da crítica de música Venomya.
Na literatura e em revistas em quadrinhos
Baba Yaga é um importante personagem central na história
"Baba Yaga" nos quadrinhos da personagem Valentina (quadrinhos), de
Guido Crepax , também no filme sobre Valentina Baba Yaga
Baba Yaga, juntamente com alguns dos elementos de sua
história, é uma personagem importante nas revistas em quadrinhos (banda desenhada)
Hellboy, de Mike Mignola.
No livro Women Who Run with the Wolves: Myths and Stories of
the Wild Woman Archetype (Mulheres que Correm com os Lobos), Clarissa Pinkola
Estés relata e analisa de uma perspectiva arquetípica o conto russo Vasalisa,
em que Baba Yaga é personagem central e a passagem de Vasalisa por sua cabana
resulta em importante aprendizado.
No livro de RPG Werewolf: The Apocalypse – Players Guide to
Garou, fala sobre uma figura que assolava a Rússia e provocava destruição e
desaparecimentos, incluindo lobisomens e qualquer outra criatura que tentasse
se opor a ela.
O autor Raphael Draccon menciona Baba Yaga em sua série de
livros, Dragões de Éter.
Nos jogos
Baba Yaga é o tema da primeira DLC do jogo Rise of the Tomb
Raider.
No primeiro jogo da série Quest for Glory, Baba Yaga é uma
das principais vilãs, e, tal como a personagem folclórica, habita na floresta,
numa casa de madeira apoiada por um par de patas de galinha.
No MMORPG RuneScape há uma velha chamada Baga Yaga que vive
numa casa móvel com pés de galinha.
Baba Yaga aparece em Castlevania Lords of Shadow lançado
pela Konami, desenvolvendo um importante papel na jornada de Gabriel Belmont.
Vasilisa e Baba Yaga aparecem no RPG indie Moon Hunters,
desenvolvido pela Kitfox Games.
Baba Yaga foi incluída no jogo MOBA Smite como um personagem
jogável.
Músicas e podcasts
A banda Edguy também fez menção à Baba Yaga, em seu álbum,
Space Police: Defenders of the Crown na música "The Realms of Baba
Yaga".
A banda Emerson, Lake & Palmer já fez algumas menções à
Baba Yaga em algumas de suas músicas, como "The Hut of Baba Yaga" e
"The Curse of Baba Yaga" (ambas do mesmo álbum, Pictures At An
Exhibition). No entanto, trata-se apenas de uma adaptação da música "Khatka
na kuryachikh lapkakh (Baba-Yaga)", n.o 9 da suíte Kartínki s výstavki –
Vospominániye o Víktore Gártmane (lit. "Pinturas de uma Exibição
&ndash Uma Recordação de Viktor Hartmann") originalmente da autoria do
compositor russo Modest Mussorgsky.
No podcast Tanis, desenvolvido pela Public Radio Alliance, o
narrador e investigador Nic Silver correlaciona características da Cabine com a
casa de Baba Yaga, tanto pelo fato de relatarem que ambas são maiores por
dentro do que por fora, quanto por ambas se moverem pela floresta.
A banda Slaughter to Prevail também fez menção a Baba Yaga,
em um single chamado Baba Yaga.
Figuras relacionadas e análogas
Ježibaba, uma figura intimamente relacionada com Baba Yaga,
aparece no folclore dos eslavos ocidentais. O nome Ježibaba e suas variantes
estão diretamente relacionado com o de Baba Yaga. As duas figuras podem derivar
de uma figura comum desde o período medieval, ou até mais antigo, e ambas as
figuras são às vezes igualmente ambíguas. As duas diferem em sua aparência em
diferentes tipos de conto, há diferenças nos detalhes sobre seus aspectos.
Essas questões persistem na região limitada das nações
eslavas ocidentais, Eslováquia, e as terras tchecas — onde são registradas referências
a Ježibaba.
Estudiosos identificaram uma variedade de seres no folclore
e mitologia que compartilham semelhanças de extensão variável com Baba Yaga.
Essas semelhanças podem ser devidas à relação direta ou por contato cultural
entre os eslavos e outros povos circunvizinhos. No Leste Europeu, tais figuras incluem
a búlgara gorska majka ("Mãe da Floresta"); Baba Korizma, Gvozdenzuba
("Dentes de Ferro"), Baba Roga (a qual está relacionada aos medos
infantis na Croácia e na Bósnia), šumska majka ("Mãe da Floresta"), e
a babice; e a eslovena Baba Pehtra. No folclore romeno, semelhanças são
identificadas em diversas figuras identificadas em semelhanças, incluindo Muma
padurii ("Mãe da Floresta"). Nas vizinhanças da Europa Germânica,
similaridades foram observadas entre a Alpine Perchta e Holda ou Holle no
folclore do Norte e da região central da Alemanha, e o suíço Chlungeri.
A famosa bruxa já apareceu em diferentes filmes, porém,
muito pouco se sabe sobre essa figura tão marcante do folclore eslavo. Há
diversas versões de quem é Baba Yaga e o que ela fazia, e ela vai muito além de
uma história de terror para assustar criancinhas.
A história dessa velha senhora tem várias versões,
inclusive, ela tem vários nomes e pouco se sabe sobre o real significado e
origem de cada um deles. Típico de histórias que sobreviveram anos e anos a
partir da linguagem oral, passando-se de geração em geração, é bem difícil
mapear e rastrear sua origem e como foi desenvolvida. Acredita-se que a
história era contada para assustar as crianças e afastá-las do perigo das
florestas.
A história mais contada é a versão russa, na qual, Baba Yaga
é uma senhora com aparência pouco agradável que vive em uma pequena casa com um
ou dois pés de galinha que possibilita que a casa se movimente pela floresta.
Além disso, algumas lendas falam de sua decoração peculiar com ossos humanos e
crânios de olhos brilhantes, já que a velhinha era conhecida por canibalismo
também. A senhora tinha um espírito viajante e voava dentro de um caldeirão,
com auxílio de um pilão como remo, enquanto varria o caminho com uma vassoura
com cabelos humanos para apagar seus rastros.
Hoje, também chamada de Ведьма (ou ved'ma), Baba Yaga é
vista como a bruxa má e feia, feroz que devora pessoas, mas, saiba que existem
muitas outras versões que mostram um lado bem diferente disso. A figura desse
mulher mística era conhecida também como vidente, por ser alguém bastante sábia
e bastante associada com a arte da adivinhação, além disso, muitos contos
mostram-na como um mulher antiga que guardava séculos de conhecimento. Podia
até não ser tão simpática, mas era gentil e ajudava quem precisava de sua
ajuda.
Alguns historiadores acreditam a Baba Yaga teve sua origem
em contos pagãos, como uma divindade, e foi demonizada com o tempo a partir do
momento que o cristianismo se espalhou pela Europa. Pouco ainda se sabe dessa
anciã, contudo, é evidente que as diversas versões de seus contos só mostram a
importância dessa figura para a cultura local dos países do leste europeu.
A ambiguidade das histórias representa uma mulher impetuosa,
porém maternal. Baba Yaga, como figura ancestral, simboliza a morte, luz e nuvem,
também conhecida por Deusa da Terra. Apesar disso, apenas os contos negativos
dessa anciã são de conhecimento das pessoas, representando sempre uma vilã com
aparência horripilante que devora pessoas.
Mesmo depois de muitas gerações contando histórias sobre
ela, Baba Yaga é enigmática e muito do que se sabe sobre ela, ainda é muito
pouco. Sem dúvidas, uma figura marcante que jamais deverá ser perdida no
esquecimento.
Presente na Mitologia Eslava, e sendo comumente retratada em
regiões do Leste Europeu, tendo a Rússia como maior abundância, a Baba Yaga é
um conto que fala sobre uma bruxa canibal. Apesar disso, é um mito que está
sujeito à um número considerável de interpretações, sendo assim, Baba Yaga pode
obter traços de personalidades tanto maléficos, quanto bondosos.
Ao analisar a etimologia do nome da bruxa, Sibelan
Forrester, que é uma estudiosa da área, aponta que "Baba" trata-se de
uma palavra usada num sentido pejorativo para se referir a mulheres pobres,
feias e até mesmo prostitutas. Por outro lado, poderiam haver outros sentidos,
tais estes poderiam-se remeter à parteira, velha ou borboleta.
Há também a sua hipótese que pode-se referir a mulheres com
mais de seus 40 ou 50 anos. No caso da borboleta, existem algumas lendas por aí
de que elas personifiquem a alma.
Quanto a palavra "Yaga", Forrester diz que essa é
mais difícil de ser definida. Outros estudiosos sugerem que pode-se referir à
caçadora, viajante, perseguidora, mas também poderia significar coisas como
horrível e horripilante. Diante desse ponto, Baba Yaga a grosso modo poderia
significar algo como "velha horripilante" ou "a velha que
persegue", duas interpretações que poderiam vir à fazer algum sentido,
quando pensamos que eventualmente, ela é descrita vagando pelas florestas atrás
de suas próximas vítimas.
Uma Figura do Bem ou do Mal?
Geralmente, a Baba Yaga é descrita como uma idosa com
aparência grotesca, ela teria como característica um corpo muito magro e
vagaria pelos ares montada em um almofariz, que é uma espécie de pilão, sendo
eventualmente utilizado como uma arma, e usa a vassoura pra apagar seus
rastros.
Baba Yaga possui como lar uma velha cabana que está assente
em duas patas de galinha, sendo a fechadura dessa cabana uma boca cheia de
dentes. Sua casa é decorada por ossos humanos, além de haver crânios com olhos
brilhantes que ficam sobre a cerca. Ela também é conhecida por vagar pelas
florestas.
A Bruxa Canibal
Baba Yaga é um tipo de conto que possui bastante versões
diferentes, sendo que em uma delas, conta-se a história de um gato, um pardal e
um garoto valente. Aqui, os animais avisam ao garoto que se a Baba Yaga vier
contar as colheres, ele deve permanecer em silêncio, portanto, eis que ela
aparece, e o jovem não se contentando, grita para que ela não toque nas
colheres.
Baba Yaga, então, leva o menino. Embora o gato, e o pardal
salvem o menino três vezes, ele acaba sempre sendo raptado pela criatura. Após
sequestrá-lo, Baba Yaga pede a uma de suas filhas para assá-lo, porém, a
criatura é enganada por ele, e de alguma maneira, é a filha dela que foi parar
no forno, algo que a criatura só descobre no momento da refeição. A mesma coisa
acontece com outras filhas da bruxa, até que ela própria é ludibriada e assada.
A Versão Mais Rica Em Detalhes
Há outra versão em que essa criatura é associada com traços
maternais. Aqui tudo se resume à um pai que perde a esposa e resolve se casar
novamente para tentar recomeçar sua vida, sendo assim, os seus filhos com a
primeira esposa que eram gêmeos, ganharam irmãos, pois a nova esposa do pai
também teve filhos. O lance é que o pai tinha um carinho especial pelos seus
primeiros filhos, devido à relação com a falecida esposa, o que acabava
causando uma crise de ciumes em sua mulher. Isso já era motivo o suficiente
para ela maltratar as crianças, deixando-as até mesmo passar fome.
Certo dia, o ódio da madrasta acumulou-se a ponto dela
mandar os seus enteados até a casa de uma bruxa que vivia em uma floresta, com
a esperança de que eles nunca mais voltassem. A madastra os enganou dizendo que
lá ela ofereceria do bom e do melhor para que eles comessem. Antes de irem até
lá, haviam passado na casa da tia-avó para uma refeição, e levaram leite,
presunto e biscoitos para comer durante o caminho até a casa de Baba Yaga.
Ao chegar à casa de Baba Yaga, as crianças se depararam com
uma velha senhora descansando perto da parede ao fundo, óbviamente, a sua
aparência já era o suficiente pra amedrontar as crianças a ponto de fazerem
elas chorarem, a criatura não se opôs à presença delas, portanto, deviam
obedecê-la a todo custo, caso contrário, ela devoraria as crianças.
Sendo assim, ela mandou a menina para a roda de fiar e o
garoto ficou encarregado de buscar água em uma peneira para encher a banheira.
A irmã chorava enquanto utilizava a rodar de fiar, tecendo um longo fio. Logo
ela percebeu que alguns ratinhos se aproximaram dela pedindo pelos biscoitos
que ela havia pego com a avó mais cedo, quando receberam, sentindo-se
agradecidos, disseram para a garota procurar por um Gato Preto, pois ele
poderia ajudá-la caso recebesse uma fatia de presunto.
Após um tempo, as crianças encontraram esse tal gato, que
entregou aos irmãos uma toalha para ser usada como capa, ele alegou que caso
Baba Yaga fosse atrás deles, eles poderiam jogar essa toalha no chão e a partir
dela surgiria um rio, pois, de acordo com ele, as bruxas possuem uma fraqueza
por águas correntes. Além disso, ele também entregou um pente que poderia ser
usado para criar uma grande árvore negra, caso as crianças precisassem de um
local para se esconder.
Algum tempo depois, as crianças conseguem escapar, e a Bruxa
encontra o gato destruindo todo o fio criado pela menina e nota a falta das
crianças, ela então pergunta porque ele os deixou fugir, e o gato retorna
dizendo que em muitos anos, a bruxa não havia lhe feito nenhum agrado, mas as
crianças haviam lhe dado uma fatia de presunto. Após isso, a bruxa foi a
procura das crianças, entretanto, o plano dos objetos mágicos funcionou, e a
criatura acabou desistindo.
Já a madrasta teve um fim um tanto grotesco, pois além de
ser expulsa de casa pelo seu marido, ao vagar rumo floresta adentro, foi
encontrada por Baba Yaga, e acabou sendo devorada por ela, devido ao seu
coração impuro. Diante do fim dessa trama, a criatura é vista como uma figura
que demonstra ambiguidade, tendo preferência por aqueles que possuem uma certa
imoralidade.
Baba Yaga é o arquétipo da bruxa eslava presente no folclore
russo e de todo Leste Europeu. Ela é um personagem muito mais profunda e
intrincada do que as bruxas presentes nos mitos da Europa Ocidental, uma figura
que inspira sentimentos contraditórios de medo, respeito e esperança.
Seu nome é um testemunho de sua identidade, assim como as
muitas lendas que a cercam. O termo russo "Baba" é geralmente
considerado ofensivo entre os eslavos. Ele serve para designar um tipo de
mulher vingativa, que vive reclamando, que é grosseiramente desgrenhada, uma
verdadeira matrona que jamais casou ou foi realmente amada ao longo de sua
existência. Seria o equivalente a uma solteirona, uma velha que é consumida
pela inveja de todos que são felizes e que vai se tornando cada vez mais
amarga, perversa e cruel com o passar dos anos. "Yaga" é mais
frequentemente traduzido como "bruxa", mas tem vários outros
significados, como "feiticeira", "malvada",
"traiçoeira" e até "serpente", algumas vezes a palavra
também é usada para descrever uma situação de perigo, de medo ou até de fúria.
Em suas lendas, Baba Yaga vive nas profundezas de uma
floresta selvagem quase inacessível. A vegetação nesse lugar cresce de maneira
incomum, não natural. A copa das árvores impede a entrada dos raios de sol, os
troncos são tomados de fungos venenosos e mesmo os arbustos são cheios de
espinhos. Erva daninha e urtiga cresce selvagem. Os animais silvestres evitam
esse bosque maligno; onde haveria o canto de pássaros e o zumbido de insetos,
repousa apenas um silêncio sepulcral.
Em geral, existe um único caminho através dessa floresta
erma, que se oferece como uma rota segura. Essa estrada de terra conduz até uma
cabana arruinada de madeira. Trata-se de uma construção rústica, típica dos
camponeses, com ripas de madeira engendradas umas sobre as outras e uma chaminé
de tijolo sempre cuspindo fumaça. Através das janelas sujas pode ser vista uma
luz amarelada de candeeiro. As telhas no alto parecem velhas, precisando de
reparos, tudo é antigo e com uma aparência de flagrante abandono.
Ao redor da casa há um indicativo do perigo que reside nessa
morada. Uma cerca baixa feita de ossos circunda toda a propriedade, crânios
humanos servem de vigias no alto da murada macabra e à noite, órbitas vazias
brilham com uma luminosidade fosforescente. O portão de entrada é feito de
costelas arqueadas pendendo em postes erguidos com ossos compridos e
amarelados. A fechadura fica na boca de uma caveira em meio aos seus dentes perolados.
A campainha é um chocalho com falanges penduradas numa corda de cabelos que
quando agitada emite um ruído de tilintar.
Por alguma razão, a porta de entrada da cabana sempre está
voltada para o lado oposto da estrada. Quem deseja entrar precisa bater palmas
ou chamar a atenção do dono em seu interior. Na realidade, Baba Yaga está
sempre ciente quando há visitantes no seu alpendre, ela decide se quer receber
visitas. Segundo a lenda, se esse for o caso, a cabana inteira estremece se
erguendo artriticamente do chão de terra. Imensas pernas de galinha que servem
como base de sustentação para o casebre se encarregam de posicioná-la
corretamente, fazendo com que a porta fique diante de quem planeja entrar. Se
por algum motivo o visitante se comportar de maneira desrespeitosa enquanto
chama pelo dono da casa, a bruxa simplesmente comanda os pés da cabana a
pisoteá-lo até esmagar cada osso de se corpo. Mas em geral, Baba Yaga concede
ao visitante o direito de adentrar o seu pavoroso covil.
A bruxa em si é uma visão medonha, uma velha magra com um
longo nariz em forma de anzol, tomado por verrugas e um queixo pontudo. Longos
cabelos cinzentos e oleosos, por não serem lavados há anos, descem pelos ombros
e pelas costas encarquilhadas. Sua coluna é tão encurvada que ela anda abaixada
dando a impressão de que o nariz vai tocar o chão. Mas isso é um artifício para
esconder seu sinistro sorriso composto de fileiras de dentes extremamente
afiados. O corpo da bruxa é tão magro que os andrajos remendados que ela veste
pendem soltos na sua silhueta esquálida. Apesar de parecer extremamente frágil,
Baba Yaga é rápida e extremamente forte, sendo capaz de subjugar um homem
adulto com suas próprias mãos.
Algumas lendas mencionam que ela possui serviçais que
protegem a sua cabana . São eles um grande e feroz cão de caça, um gato preto
de olhos verdes extremamente malignos e uma espécie de árvore (alimentada com
sangue) que cresce na frente de sua casa e cujos galhos se estendem como
tentáculos. Essas criaturas são criadas magicamente e portanto dotadas de
inteligência, obedecendo com intensão assassina a todas as ordens de sua
mestra. Em algumas estórias eles cumprem tarefas como enviar mensagens, seguir
vítimas ou proteger a casa na ausência da bruxa. Há ainda horríveis mãos
decepadas de cadáveres que são enterradas na entrada da casa da bruxa e que
servem de guardiões contra invasores. Quando alguém tenta forçar a entrada,
essas mãos irrompem do chão para agarrar pés e tornozelos detendo o avanço.
Haveria ainda três cavaleiros enigmáticos que cavalgam montarias
fantasmagóricas e servem a bruxa em todos os seus desígnios.
Baba Yaga raramente deixa a sua cabana, na maioria das vezes
ela aguarda pacientemente (como uma aranha no centro de sua teia) que alguma
presa venha até ela. Ela é capaz de disfarçar seu covil através de um
encantamento místico bastante real, fazendo com o aspecto sinistro dê lugar a
uma casa confortável e convidativa. A própria bruxa pode assumir outras duas
formas humanas mais agradáveis. A primeira é a de uma jovem mulher de cabelos
negros e pele muito branca que anda descalça sobre a neve, protegida apenas por
um manto de pele de raposa. Ela é escolhida quando a bruxa deseja atrair um homem
valendo-se de luxúria. A outra forma é de uma mulher de meia idade, com roupas
de camponesa e com o olhar reconfortante de uma mãe cheia de candura. Quando
usa esse aspecto a casa exala um odor convidativo de comida recém preparada, de
doces ou guloseimas. É claro, essas duas formas escondem a verdadeira face da
bruxa que se diverte ao mostrar sua aparência decrépita antes de capturar suas
vítimas.
Nas raras ocasiões em que ela deixa a segurança de sua
cabana, ela utiliza uma espécie de pilão de madeira voador que a propele pelo
ar, enquanto ela manobra a coisa com uma vassoura de palha que lhe dá rumo. Nas
culturas eslavas, nada pode ser sinal de maior azar do que derrubar um pilão de
moagem no chão, pois dizia-se que tal coisa podia atrair a raiva da Baba Yaga.
Da mesma maneira, uma vassoura usada para varrer os dois pés de uma pessoa ao
mesmo tempo funcionava como uma espécie de maldição, marcando o indivíduo para
encontrar a terrível bruxa mais cedo ou mais tarde.
[NOTA: Não sei se é daí que vem a superstição de que varrer
os pés de uma pessoa faz com que ela não consiga encontrar alguém para casar.]
Os visitantes que entram na cabana, por vontade própria ou
de alguma forma ludibriados, estão destinados a terminar no grande forno à lenha
da bruxa. Ao menos esse é o fim da maioria das pessoas. Esses infelizes podem
ser atacados de surpresa, simplesmente empurrados para dentro do forno ou
desacordados após ingerir alguma poção, se fartar com uma ceia ou compartilhar
da cama da bruxa (quando ela assume a forma da jovem dadivosa).
Como em todas as fábulas, existem algumas regras que podem
salvar a pessoa de se tornar comida da feiticeira canibal. Oferecer-se para
rachar lenha, varrer a casa, moer grãos ou preparar alguma refeição pode salvar
o indivíduo da morte certa. Em algumas circunstâncias demonstrar amabilidade,
esperteza ou bravura pode resultar em um presente. Infelizmente, fazer
perguntas inconvenientes, agir com grosseria ou desacatar a dona da casa é o
caminho mais rápido para a perdição.
Presente em todo Leste Europeu e na Rússia, a Baba Yaga
sempre foi (e ainda é) uma entidade extremamente popular que domina o folclore
local. Mesmo durante os anos mais rígidos impostos pelo regime comunista da
União Soviética, os velhos mitos que cercavam a bruxa não foram inteiramente
esquecidos. Durante os pogrons impostos pelo regime, muitas mulheres foram
poupadas de serem desalojadas de suas cabanas, não pela bondade repentina dos
comissários sovietes, mas porque muitos temiam que a cabana pudesse ser a
morada da feiticeira. Da mesma maneira, relatos de soldados que supostamente
encontraram ou até se aventuraram na cabana de Baba Yaga, se tornaram
recorrentes tanto na Primeira quanto na Segunda Guerra Mundial. O próprio
Exército Vermelho espalhou um boato para conter uma onda de deserções que Baba
Yaga atacava soldados solitários nas florestas. Diante da perspectiva de
enfrentar a máquina de guerra nazista ou a bruxa faminta, muitos soldados
preferiam tentar a sua sorte contra o exército alemão.
Apesar de ser uma criatura essencialmente maligna, Baba Yaga
em alguns momentos está disposta a ajudar quem a procura, especialmente se a
pessoa tiver sofrido uma injustiça ou perseguição. Não raramente ela sabe de
algum problema ou aflição e tenta a pessoa com uma solução para seu dilema
oferecendo algum talismã, amuleto ou feitiço miraculoso. Confiar demasiadamente
na velha, entretanto pode ser fatal, seu humor é tão volúvel quanto o clima e
de uma hora para outra, um aliado pode acabar lançado no forno.
Poucas coisas são capazes de machucar Baba Yaga, ela é imune
a armas e a maioria dos ataques físicos simplesmente não resultam em nada em
seu corpo. Contudo, ferro frio (não moldado) é capaz de feri-la e talvez até
matá-la. Magias também podem ser um trunfo, embora ela conheça a maioria dos
abascantos que neutralizam ou anulam feitiços.
Como muitas figuras do folclore, Baba Yaga é mais uma força
da natureza do que um símbolo de morte, maldade e destruição. Ainda que seja
uma criatura de comportamento imprevisível ela é uma boa juíza de caráter e
quando percebe algum atributo ou virtude digna de nota em uma vítima em
potencial, prefere ouvir o que ela tem a dizer antes de simplesmente devorá-la.
Ainda que esteja sempre faminta, característica por si só assustadora, os povos
eslavos vêem nela uma fonte de sabedoria que não pode ser preterida.
Fontes: https://pt.wikipedia.org/wiki/Baba_Yaga
https://mitologia-lendas-urbanas.fandom.com/pt-br/wiki/Baba_Yaga
http://mundotentacular.blogspot.com/2014/05/a-lenda-de-baba-yaga-mais-temida-das.html
Que sejam prósperos,
Raffi Souza.