O Mistério de Egunitá
"Purificar é limpar desembaraços, é desimpregnar um
ser, física e Espiritualmente. A Divindade cujo mistério é o Fogo e a Justiça
Divina, que purificam os excessos emocionais dos seres desequilibrados,
desvirtuados e viciados, é Mãe Egunitá. Os
vícios emocionais tornam os
seres insensíveis à
dor alheia. Os desequilíbrios mentais transformam os
seres em tormentos para seus semelhantes. Mãe Egunitá é o Fogo Divino da
purificação das ilusões humanas. É o fogo consumidor das paixões humanas, é o
raio rubro, o braseiro que queima. As energias incandescentes e flamejantes
tanto consomem os vícios quanto estimulam os sentimentos de justiça. O fogo é
um elemento temido. Mãe Egunitá, no panteão hindu, era conhecida como a deusa
Kali, divindade evitada e temida por
todos os que desconheciam seu mistério" (Mãe Lurdes de Campos Vieira).
Então dizemos o fogo de Egunitá "queima" as
energias dos apaixonados, emocionados, fanatizados ou desequilibrados,
reduzindo a chama interior de cada um (sua energia ígnea) a níveis baixíssimos,
apatizando-os, paralisando-os e anulando seus vícios emocionais e
desequilíbrios mentais, sufocando-os.
Mãe Egunitá nos traz uma face que faltava no estudo dos
Orixás, como Divindade do Fogo Purificador e Renovador. Antes das informações
trazidas por Pai Benedito de Aruanda, através da psicografia de Rubens
Saraceni, não havia na Umbanda um estudo sobre um Orixá que representasse o
Fogo da Purificação, o Fogo que destrói os desequilíbrios para trazer a
renovação do ser. Esta renovação é justamente o aspecto característico da
atuação de Mãe Egunitá e faz parte do seu culto, inclusive diferenciando-o de
cultos anteriores, como veremos a seguir. Podemos dizer que o culto a esta
orixá vem da África, da cultura
Nagô-yorubá. E nessa cultura não havia um Orixá que representasse a Mãe do
Fogo. Falava-se numa “Iansã do Fogo” (Iansã-Egunitá ou Oyá-Egunitá) como uma
Qualidade de Iansã, mas não se tratava de outro Orixá. Dentro dos Cultos de
Nação, é muito antigo e de acesso restrito o culto de Iansã do Fogo, pois
somente poderia ser praticado por uma menina virgem de 11 anos de idade,
mediante oferenda específica, a qual exigia que se colhessem flores cortadas
numa época determinada e dentro de alguns preceitos. Já na Umbanda o culto à
Mãe Egunitá é bem diverso, dentro dos conceitos que Pai Benedito de Aruanda
expôs. Primeiro, porque se trata de outro Orixá, de outra Divindade, não mais
apenas de uma Qualidade de um Orixá já cultuado (no caso, Iansã). Depois, é
preciso lembrar que essas Mães atuam de forma diferente: Iansã é movimentadora
e direcionadora; enquanto Egunitá representa o Fogo Divino que consome os
vícios e desequilíbrios, purificando e renovando os seres perante a Justiça e a
Lei Divinas e lhes dando equilíbrio em todos os Sentidos da vida. Ou seja,
“Iansã do Fogo” não é o Orixá Egunitá de que nos fala Pai Benedito de Aruanda.
Pela mediunidade de Rubens Saraceni, Pai Benedito trouxe a informação de que no
Astral se conhece uma Divindade Feminina do Fogo cujo nome sagrado não chegou
ao nosso meio, mas que podemos chamá-la de Mãe Egunitá. Daí é que vieram o seu
nome e o seu culto específico na Umbanda, como a Mãe do Mistério do Fogo.
Na Umbanda
Egunitá é associada ao Sol, ao planeta Júpiter e ao número
9. Egunitá é nossa amada Mãe da Purificação. Regente Cósmica do Fogo e da
Justiça Divina, é o Fogo que purifica os sentimentos desvirtuados, é a
consumidora dos vícios e desequilíbrios e das energias dos seres fanáticos,
apaixonados e emocionalmente desequilibrados.
Na África, Ela aparece como uma das Qualidades de Iansã; mas
é em Si uma Divindade de mesmo nível, é Orixá. Enfim, nem todos cultuam o Orixá
Egunitá, mesmo na Umbanda. Muitos permanecem cultuando “Iansã do Fogo”. Haveria
certo e errado, nessa questão? Definitivamente que não o importante é
caminharmos no sentido de buscar um entendimento da vida e de nós mesmos, como
algo que vai muito além da carne e dos sentidos físicos. Fazer isso de forma
sincera, de todo o coração, e com amor pela nossa vida e pela Vida Maior. E
sempre respeitando as crenças alheias. O importante é que os Orixás nos amam,
nos conhecem e nos reconhecem como Seus filhos, independente do modo como nos
dirigimos a Eles.
Atribuições
Quando oferendar: Para pedir ao Fogo Purificador que consuma
energias negativas, vícios, excessos emocionais e cordões negativos que estejam
envolvendo a nós mesmos e/ou aos nossos templos e moradias.
Amaci de Egunitá:
Água da fonte com pétalas de rosa cor-de-rosa, folhas de
alecrim e de arruda maceradas e curtidas por 3 dias.
Modelos de Oferendas:
1- Fazer um círculo com 7 velas brancas, 7 vermelhas e 7 de
cor laranja (ou amarelas). Dentro deste círculo, colocar rosas vermelhas (ou
flores do campo vermelhas e/ou alaranjadas). Despejar um pouco de licor de
menta dentro do círculo das flores. Cortar ao meio um maracujá e colocar as
duas metades dentro do círculo de flores: uma com água e a outra com azeite de
dendê (ou com azeite de oliva consagrado). Firmar as velas e pedir a bênção da
Mãe Egunitá.
2- Um copo com licor de menta, um copo com água mineral e um
copo com vinho tinto; 1 pemba branca e 1 vermelha; palmas vermelhas e flores
cor laranja; 1 vela palito de cada uma destas cores: laranja, vermelha, branca,
amarela e azul escuro. Fazer um círculo com as flores e no meio dele formar um
triângulo com os copos das bebidas. Dentro deste triângulo, colocar as pembas.
Circular tudo com as velas, dispondo-as de forma alternada (laranja, vermelha,
branca, amarela, azul). Firmar as velas e fazer o pedido à Mãe Egunitá.
3- Velas de cor laranja, vermelha e dourada; frutas:
laranja, tangerina, mexerica, laranja kinkan; bebida: licor de menta; flores
vermelhas e laranja. (Do site do Templo da Luz Dourada, de Mãe Mônica
Berezutchi.)
4- Do livro “Doutrina e Teologia de Umbanda Sagrada”, de
Rubens Saraceni:
Elementos: um copo com licor de menta; um copo com água; 1
pemba branca, 1 pemba vermelha; 7 velas vermelhas, 7 velas douradas, 7 velas
azuis, 7 velas amarelas e 13 velas brancas.
Montagem: Fazer uma cruz com as velas brancas, colocando 7
na vertical e 3 de cada lado, na horizontal.
No canto superior direito da cruz, colocar as 7 velas
douradas. Isso vai formar um triângulo com as velas brancas do centro superior
e as do braço direito superior (horizontal) da cruz. Dentro dele, colocamos o
copo com licor de menta;
No canto inferior direito da cruz, colocar as 7 velas azuis.
Isso vai formar outro triângulo, este com as velas brancas da vertical inferior
e as do braço direito horizontal da cruz. Dentro deste triângulo colocamos a
pemba branca. No canto superior esquerdo da cruz, colocar as 7 velas vermelhas.
Elas vão se juntar às velas brancas da parte vertical superior da cruz e às
velas brancas do braço horizontal esquerdo da cruz, formando outro triângulo de
velas. Dentro dele, colocamos o copo com água;
No canto inferior esquerdo da cruz de velas brancas,
colocamos as 7 velas amarelas. Isso vai formar mais um triângulo de velas.
Dentro dele, colocamos a pemba vermelha.
Em seguida, cercar a oferenda com palmas vermelhas. Depois,
saudar Mãe Egunitá e pedir a proteção almejada.
Sempre que oferendamos o Orixá Egunitá, antes devemos fazer
uma oferenda à Senhora Pombagira do Fogo. Esta oferenda será posta à esquerda
do lugar escolhido para a oferenda ao Orixá (ex.: 7 passos à esquerda), e com
estes elementos: rosas vermelhas, velas vermelhas e champanhe rosê.
Cozinha ritualística:
1- Fava vermelha: Cozinhe ligeiramente uma porção de fava
vermelha apenas em água. Escorra. Em outra panela, refogue 1 dente de alho
picadinho, 1 cebola picadinha e 1 colher de azeite de oliva (ou de dendê).
Acrescente sal a gosto e refogue ligeiramente a fava já cozida. Decorre uma
gamela com tiras de cenoura e pedacinhos de gengibre, ou então com flores
vermelhas ou de cor laranja, e aí coloque a oferenda.
2- Laranja com gengibre: Use 1, 3 ou 9 laranjas. Lave e
seque as laranjas. Descasque, retire as sementes e reserve a casca. Corte cada
uma das laranjas em 9 tiras ou pedaços.
Prepare uma calda (com água e açúcar), leve ao fogo e deixe
começar a engrossar. Coloque as laranjas nessa calda para aferventar (uns 5
minutos) e acrescente gengibre em pedacinhos ou em pó. Retire. Sirva numa
gamela (de madeira) forrada com as cascas de laranja que estavam reservadas
(corte as cascas em tiras, ou em pedacinhos, como preferir). Decore com pedaços
de gengibre. [*Obs.: A mesma receita pode ser feita com limão, no lugar da
laranja.]
3-Moranga com peito de boi- Ingredientes: 1 moranga; meio
quilo de carne de peito de boi; tomate, cebola, dendê; meio quilo de fava
vermelha; cheiro-verde, orégano.
Preparo: Cortar uma tampa da moranga e retirar as sementes.
Lavar e cozinhar por uns 10 minutos (numa panela com água suficiente para
cobrir a moranga). Reservar. Cozinhar a fava apenas com água, por uns 10
minutos. Escorrer a água e reservar a fava cozida. Refogar a cebola e o tomate
picadinhos e ali cozinhar o peito de boi cortado em cubinhos, por uns 10
minutos. Acrescentar 1 colher de sopa de dendê e temperos (cheiro-verde,
orégano), para finalizar. Colocar a carne na moranga e cobrir com a fava.
Oferendar num prato de papelão forrado com folhas de cenoura (a rama da
cenoura).
4- Feijão de corda- Ingredientes: meio quilo de feijão de
corda; meio quilo de quiabo cortado em rodelas; 1 cebola picada; azeite de
dendê. Preparo: Cozinhar o feijão apenas em água, por 10 minutos. Escorrer e
reservar. Refogar ligeiramente o quiabo com a cebola, o dendê e o feijão
cozido. Colocar tudo numa gamela, ou num prato de papelão. Forre o vasilhame
escolhido com folhas de agrião (ou com galhos de arruda) previamente lavadas.
Colocar a oferenda e regar com dendê.
5- Sobre um punhado de folhas de arruda previamente lavadas
e enxutas (ou sobre rama de cenoura), oferendar nove acarajés. Enfeitar com
flores vermelhas ou de cor laranja, ou ainda com girassóis.
Gus Bernardes