o culto aos deuses egípcios!
Para você compreender
o politeísmo egípcio, ou seja, o culto a vários deuses, faz-se necessário
esclarecer algumas características da sociedade egípcia. O governo no Egito
Antigo era teocrático: os administradores governavam em nome dos deuses (da
religiosidade). O principal governante do Egito, ou das cidades-estados, era
chamado de faraó: ele possuía todo o poder (assumia várias funções: era o rei,
juiz, sacerdote, tesoureiro, general) e era tido como um deus vivo: filho do
Sol (Amon-Rá) e encarnação de Hórus (deus falcão). Portanto, a religiosidade e
o culto aos deuses no Egito Antigo tinham um grande significado para a
sociedade.
Os egípcios cultuavam vários deuses (politeístas) e alguns
deuses eram animais. Por exemplo: o gato acabava com as infestações de ratos
nos celeiros com os mantimentos; o cachorro auxiliava na caça; o gado, na
agricultura (puxava a charrua), entre outros.
Os animais no Egito Antigo eram considerados a encarnação
dos próprios deuses. Os egípcios também adoravam as formas e forças da
natureza, como o rio Nilo, o Sol, a Lua e o vento.
Cada cidade-estado egípcia possuía o seu deus protetor.
Existiam deuses com formato de animal (zoomorfismo), outros deuses tinham o
formato de homem juntamente com animal (corpo de homem e cabeça de animal –
antropozoomorfismo) e também existiam deuses somente com o formato humano
(antropomorfismo).
A religiosidade tinha importância para os egípcios até após
a morte, pois eles acreditavam na imortalidade. Por esses motivos cultuavam os
mortos e praticavam a mumificação (a conservação dos corpos). Acreditavam que o
ser humano era constituído por Ká (corpo) e Rá (alma). No momento da morte, a
alma deixaria o corpo, mas poderia continuar a viver no reino de Osíris ou de
Amon-Rá – a volta da alma para o corpo dependia do julgamento no Tribunal de
Osíris.
Após o julgamento de Osíris, se a alma retornasse ao corpo,
o morto voltaria à vida no reino de Osíris; se não, a alma ficaria no reino de
Amon-Rá. Daí a importância da conservação dos corpos pela mumificação, se a
alma retornasse ao corpo, este não estaria decomposto.
Os principais deuses
egípcios eram:
Rá, o deus Sol, unido ao deus Amon, formando Amon-Rá, era o
principal deus.
A deusa Nut, representada por uma figura feminina, era a mãe
de Rá (Sol). Ela engoliu Rá, formando a noite e fazendo-o renascer a cada
manhã.
Ísis foi esposa de Osíris, mãe de Hórus, protegia a
vegetação e era a deusa das águas e das sementes.
O deus Hórus foi o deus falcão, filho de Ísis e Osíris,
cultuado como o sol nascente.
Osíris, deus dos mortos, da vegetação e da fecundidade, era
representado pelo rio Nilo. Era Osíris que buscava as almas dos mortos para
serem julgadas em seu Tribunal.
Set foi colocado como grande inimigo de Osíris (Nilo), era o
vento quente vindo do deserto, encarnação do mal.
O deus Amon, considerado deus dos deuses do Egito Antigo,
foi cultuado junto com Rá (Amon-Rá).
As crenças e cultos religiosos estavam na base das
manifestações culturais, sociais, políticas e econômicas no Egito. A
religiosidade permeava toda a sociedade egípcia, nas artes, na medicina, na
astronomia, na literatura e no próprio governo do Egito Antigo.
Os deuses egípcios
Os egípcios cultuavam inúmeros deuses, com funções e
aspectos variados. Existiam deuses cultuados em todo o Egito e outros adorados
apenas em determinados lugares. Entre os primeiros estavam os deuses ligados à
morte e ao enterro, como Osíris.
O culto a Ísis e a Osíris era o mais popular no Egito
Antigo. Acreditava-se que Osíris e sua irmã-esposa, Ìsis, tinham povoado o
Egito e ensinado aos camponeses as técnicas
de agricultura. Conta a lenda que o deus Set apaixonou-se por Ísis e por
isso assassinou Osíris. Esse ressuscitou e dirigiu-se para o Além, tornando-se
o deus dos mortos.
Os antigos egípcios acreditavam que as lágrimas de Ísis, que
chorava a morte do esposo, eram responsáveis pelas cheias periódicas do Nilo.
Também era adorado o deus Hórus, filho de Ísis e Osíris.
Estas divindades possuíam algumas características (poderes)
acima da capacidade humana. Poderiam, por exemplo, estar presente em vários
locais ao mesmo tempo, assumir várias formas, até mesmo de animais e interferir
diretamente nos fenômenos da natureza. As cidades do Egito Antigo possuíam um
deus protetor, que recebia oferendas e pedidos da população local.
Os deuses egípcios têm muito em comum com os homens: podem
nascer, envelhecer, morrer: possuem um corpo que deve ser alimentado, um nome,
sentimentos. No entanto, estes aspectos muito humanos escondem uma natureza
excepcional: seu corpo, composto de matérias preciosas, é dotado de um poder de
transformação, suas lágrimas podem dar nascimento a seres ou minerais. Os
poderes dos deuses são sempre comparados a algumas propriedades dos elementos
da natureza ou dos animais, o que dá lugar a representações híbridas às vezes
espantosas.
Para representar os deuses, todas as combinações são
possíveis: divindades totalmente humanas, deuses inteiramente animais, com
corpo de homem e cabeça de animal, com o animal inteiro no lugar da cabeça (o
escaravelho, por exemplo) ou com cabeça humana. A esfinge, imagem do deus-sol e
do rei, é um leão com cabeça humana. Há animais comuns a muitas divindades (o
falcão, o abutre, a leoa) e outros que são característicos de apenas uma (íbis
de Thot, o escaravelho de Khepri).
Os egípcios mumificavam e enterravam seus animais
domésticos. Sobretudo em uma data relativamente tardia, no decorrer do 1°
milênio A.C. os egípcios sacrificavam animais para mumificá-los e amontoá-los
aos milhares em cemitérios especiais. São, provavelmente, ex-votos que os
devotos compraram dos sacerdotes para oferecer a seu deus seu animal preferido.
O culto dos touros sagrados é muito mais antigo: um animal único torna-se uma
manifestação terrestre do deus. Ele tem direito a um enterro com grandes pompas.
Havia inúmeros Deuses, sendo inevitável às rivalidades e as
contradições.
A religião exerceu bastante influência na vida do povo do
antigo Egito. É ainda um dos aspectos dessa grande civilização antiga sob os
quais os arqueólogos talvez mais tenham conhecimento, devido às já famosas
pirâmides, lugar de descanso eterno de importantes faraós, além da grande
quantidade de múmias encontradas, textos mortuários e similares.
No antigo Egito, entendia-se que homem e natureza deveriam
conviver em harmonia para sempre. Seu culto era politeísta (crença em vários
deuses, ao invés de um apenas, como na religião cristã), onde cada deus atuava
em um campo específico da vida dos cidadãos. Haviam também deuses que
combinavam o aspecto de homem e de outros animais, como por exemplo Anúbis,
retratado com cabeça de chacal e corpo humano.
A criação do mundo de acordo com o culto egípcio prega que
no início de tudo havia apenas o Oceano Primal, um enorme oceano envolto em
trevas. Apesar de conter dentro de si toda a matéria que depois se
desenvolveria em vida, assim permaneceu, inerte, durante longo tempo. É então
que Nu, espírito da água primeva e pai dos deuses, decide por criar o mundo, e
ao pronunciar a palavra, o mundo existiu, na forma previamente traçada na mente
do espírito criador. A seguir, criou o ovo (ou então flor em alguns relatos) do
qual salta Ra, deus sol, onde se acreditava estar o poder absoluto do espírito
divino.
Mas sem dúvida o conceito mais intrigante do culto egípcio
era o que envolve a ressureição a uma vida futura, e a preparação dos mortos
para esta passagem de um nível para outro. O conceito de mumificação estava
diretamente ligado a esse aspecto, pois, para os egípcios, sem um corpo íntegro
(sem mutilações) para se enterrar, a alma do morto não poderia entrar incólume
na vida eterna. Assim, todo cidadão, ao morrer, passaria pelo processo de
mumificação, ou seja, de preservação de seu corpo. Todo este cerimonial estava
ligado ao culto de Osíris, uma das deidades mais populares do Egito antigo,
que, segundo a crença, fora esquartejado em 14 pedaços por Set, sendo
ressuscitado por Ísis, sua irmã e esposa. Da união de Ísis e Osíris surge
Hórus, que derrotaria Set, vingando seu pai. Osíris era exemplo na causa da ressurreição
dos mortos.
Além desse aspecto mais conhecido, os egípcios tinham por
hábito eleger um deus como protetor de sua cidade. Além disso, eram erguidos
vários templos para adoração de uma divindade em especial, onde se realizavam
rituais e oferendas.
A religião ainda estava presente na estrutura de poder desta
antiga civilização. O faraó declarava parentesco com os deuses e era neles que
apoiava sua monarquia. Era o poderoso monarca que poderia assim, com sua
ligação divina, proporcionar uma agricultura fértil, além de uma ótima condição
de vida a cada cidadão.
Com as constantes invasões estrangeiras, o culto local acaba
entrando em decadência. Primeiro, ele se mistura com a religião grega, e vai
acumulando outros elementos quando o Egito é anexado pelo Império Romano. Com a
ascensão do cristianismo, o Egito é um dos lugares onde a nova religião mais
prospera, e por volta do século IV da nossa era, os últimos templos de culto
aos deuses egípcios eram demolidos.
As crenças religiosas dos antigos egípcios tiveram uma
influência importante no desenvolvimento da sua cultura, embora nunca tenha
existido entre eles uma verdadeira religião, no sentido de um sistema teológico
unificado. A fé egípcia baseava-se na acumulação desorganizada de mitos
antigos, culto à natureza e inumeráveis divindades. No mais influente e famoso
destes mitos desenvolve-se uma hierarquia divina e se explicava a criação do
mundo.
De acordo com o relato egípcio da criação, no princípio só
existia o oceano. Então Rá, o Sol, surgiu de um ovo (segundo outras versões de
uma flor) que apareceu sobre a superfície da água. Rá deu à luz quatro filhos,
os deuses Shu e Geb e as deusas Tefnet e Nut. Shu e Tefnet deram origem à
atmosfera. Eles serviram-se de Geb, que se converteu na terra, e elevaram Nut,
que se converteu em céu. Rá regia todas as coisas. Geb e Nut posteriormente
tiveram dois filhos, Set e Osíris, e duas filhas, Ísis e Neftis. Osíris sucedeu
Rá como rei da terra ajudado por Ísis, sua esposa e irmã. Set odiava seu irmão
e o matou. Ísis embalsamou o corpo do seu esposo com a ajuda do deus Anúbis,
que desta forma tornou-se o deus do embalsamento. Os feitiços poderosos de Ísis
ressuscitaram Osíris, que chegou a ser rei do mundo inferior, da terra dos
mortos. Horus, filho de Osíris e Ísis, derrotou posteriormente Set em uma
grande batalha tornando-se rei da terra.
Desse mito da criação surgiu a concepção da eneada, grupo de
nove divindades, e da tríade, formada por um pai, uma mãe e um filho divinos.
Cada templo local tinha sua própria eneada e sua própria tríade. A eneada mais
importante foi a de Rá com seus filhos e netos. Este grupo era venerado em
Heliópolis, centro do culto ao Sol no mundo egípcio. A origem das deidades
locais é obscura; algumas vieram de outras religiões e outras de deuses animais
da África pré-histórica. Gradativamente foram se fundindo em uma complicada
estrutura religiosa, ainda que comparativamente poucas divindades locais
tivessem chegado a ser importantes em todo o Egito. As divindades importantes
incluíam os deuses Amon, Thot, Ptah, Khnemu e Hapi e as deusas Hator, Nut, Neit
e Seket. Sua importância aumentou com o ascendente político das localidades
onde eram veneradas. Por exemplo: a eneada de Menfis era encabeçada por uma
tríade composta pelo pai Ptah, a mãe Seket e o filho Imhotep.
De qualquer modo, durante as dinastias menfitas, Ptah chegou
a ser um dos maiores deuses do Egito. De forma semelhante, quando as dinastias
tebanas governaram o Egito, a eneada de Tebas adquiriu grande importância,
encabeçada pelo pai Amon, a mãe Mut e o filho Khonsu. Conforme a religião foi
se desenvolvendo, muitos seres humanos glorificados após sua morte acabaram
sendo confundidos com deuses. Assim Imhotep, que originariamente fora o primeiro
ministro do governador da III Dinastia Zoser chegou a ser conceituado como um
semideus. Durante a V Dinastia, os faraós começaram a atribuir a si mesmos
ascendência divina e desde essa época foram venerados como filhos de Rá. Deuses
menores, simples demônios, ocuparam também um lugar hierarquico entre as
divindades locais.