ALFA: O ESTADO ALTERADO DE CONSCIÊNCIA
A ciência da Feitiçaria baseia-se em nossa capacidade de
entrar num estado alterado de consciência a que chamamos "alfa",
quando as ondas cerebrais registram de 7 a 14 ciclos por segundo. Esse é um
estado de consciência associado ao relaxamento, à meditação e à atividade
onírica.
Os mais rápidos de 14 a 30 ciclos do estado beta ocorrem
quando estamos mentalmente alertas, despertos e empenhados em atividade física.
Também acompanham a excitação, o medo, a tensão e a ansiedade.
As mais lentas ondas teta, 4 a 7 ciclos por segundo,
estão associadas à sonolência e tranqüilidade profunda.
As ondas delta de 1 a 3 ciclos por segundo ocorrem no
sono profundo e sem sonhos.
Em alfa, a mente abre-se para formas incomuns de
comunicação, como a telepatia, a clarividência e a precognição.
Também podemos experimentar, nesse estado, sensações
extracorporais e psicocinéticas, ou receber informação mística, visionária, que
não chega através dos cinco sentidos. Em alfa, os filtros racionais que
processam a realidade ordinária são enfraquecidos ou removidos, e a mente é
receptiva a realidades não-ordinárias.
Podemos também definir o estado de Alfa como o princípio
geral subjacente,ou seja, é um estado alterado de consciência que nos permite
funcionar em realidades que não nos são normalmente acessíveis.
A razão pela qual a informação não usualmente disponível
torna-se acessível em alfa é que o próprio cérebro é um holograma. Estudos na
década de 1960 levaram-no a sugerir que o cérebro armazena recordações de
maneira holográfica. Os cientistas que estudam o cérebro sabiam há anos que as
recordações estão dispersas por todo o cérebro mas ninguém podia elucidar os
mecanismos que explicariam o aspecto de o-todo-em-cada-parte da armazenagem e
recuperação de recordações.
Como toda a informação do universo está em nossas mentes,
é simplesmente uma questão de colocar o cérebro no estado apropriado para
recuperar essa informação, de um modo semelhante ao de recuperação de uma
lembrança armazenada na memória. Alfa é esse estado, e o gatilho para a
recuperação é a energia da luz.
Quase todas as culturas têm usado estados alterados de
consciência, como alfa, para rituais religiosos coletivos, ritos espirituais
pessoais, adivinhação e trabalho de cura.
Num estado alfa ocorrem mudanças maravilhosas. Os nossos
egos são menos dominantes, devido a isto podemos processar a informação em
termos diferentes dos de nossa própria segurança e sobrevivência pessoal. O
potencial holográfico do cérebro/mente passa a ter plena atuação: as lembranças
são mais acessíveis, as ligações entre diferentes peças de informação ocorrem
prontamente; o contato com materiais e imagens inconscientes acontece de
maneira espontânea. As possibilidades imaginativas são focalizadas com maior
nitidez.
A compreensão intuitiva da natureza íntima das coisas, os
insights, é mais clara. Temos menor consciência das categorias espaço-temporais
que usamos para processar a experiência.
Como disse Einstein, "tempo e espaço são modos pelos
quais pensamos, não as condições em que vivemos." Alfa altera as nossas
percepções, de modo que nos libertamos desses construtos mentais de
espaço-tempo e podemos captar a experiência de outros tempos e lugares. Por
essas razões, as Bruxas efetuam a maior parte de seu trabalho mágico em alfa.
Toda a informação e todas as experiências energéticas nos
chegam em alfa porque toda a informação no universo (e todos os fenômenos no
universo) consiste em energia luminosa. A luz penetra na glândula pineal, ou
Terceiro Olho, localizada no centro da cabeça entre as sobrancelhas, onde
muitos psíquicos dizem ter sensações físicas quando recebem informação
extra-sensorial. Em alguns estados de transe, os olhos de uma pessoa rolam
naturalmente para cima, fixando-se nesse local de poder acima dos olhos.
Situada no centro da cabeça, sob o mais espesso e duro
osso do crânio, essa glândula-mestra pareceria estar enterrada profundamente
demais para poder receber luz. Durante muitos anos, os pesquisadores souberam
que a luz diurna afetava as glândulas pineais de animais, regulando a
hibernação e o cio, por exemplo, mas tinham dúvidas sobre se a luz tinha
qualquer efeito sobre as glândulas pineais de seres humanos. Mas recentes
investigações científicas indicam que a luz afeta, de fato, a glândula pineal
humana, regulando numa base diária sua capacidade de segregação de melatonina,
um hormônio que tem importante efeito sobre a produção de outros hormônios.
Além disso, o termo "Terceiro Olho" não é mera metáfora
fantasiosa inventada pelas Bruxas e os psíquicos para se darem um ar
misterioso. Os anatomistas acreditam que a glândula é, com efeito, o
remanescente de um terceiro olho que nunca se desenvolveu no transcurso da
evolução. Desde as mais recuadas eras, sábios, magos e Bruxas têm falado do
Terceiro Olho como a porta de acesso para todo o conhecimento. Os povos antigos
entenderam intuitivamente a importância desse local de poder e reverenciaram-no
de várias maneiras. No Oriente é um dos sete chakras. Os monarcas egípcios
usavam um ornamento com cabeça de cobra no centro da testa. As sacerdotisas
célticas pintavam a área de azul. As culturas que usam pintura ritual nos
rostos realçam freqüentemente essa área em frente da glândula pineal para que
atraia uma atenção especial.
A glândula pineal não só capta informação visual mas
também percebe sons que não são captáveis pelo ouvido. Ambas as espécies de
informação viajam como energia luminosa. E minha convicção que luz e som não
podem ser separados. Quando a luz chega, o mesmo acontece com a visão e o som.
E por isso que a informação que recebemos em alfa pode ser ou visual ou
auditiva. Algumas pessoas são mais propensas a uma do que a outra: algumas têm
visões, outras escutam vozes.
Como Bruxas, acreditamos estar destinadas a saber como tudo
funciona — terra, ar, fogo, água, estrelas, planetas, espíritos. Esse
conhecimento está ao nosso alcance. Além disso, somos responsáveis por saber
como tudo no universo funciona, porque somos responsáveis pelo universo. A
nossa missão é ecológica, estamos aqui para equilibrar energias, reconciliar opostos
e corrigir erros projetando mentalmente para que todas as coisas sejam
corrigidas. E nossa responsabilidade é promover a saúde e a vida em todas as
suas formas.
Entramos em alfa e observamos cada área da vida humana
que é importante para nós, de modo que possamos oferecer ajuda quando necessária,
nutrir o que requer crescimento, ensinar e servir aos menos capazes de cuidar
de si mesmos.
Somos seres psíquicos porque penetramos na sabedoria do
universo, mas tal dom não é raro. Todos o possuem e cada um de nós pode reaprender
— ou recordar — como usá-lo. Isso pode, entretanto, levar algum tempo, assim
como foi necessário para cada um de nós aprender a engatinhar antes que
pudéssemos caminhar e correr.
OS PODERES DA COR E DO NÚMERO
Um método muito fácil para entrar em alfa e ver com o terceiro
Olho chama-se "Contagem Regressiva de Cristal", um método baseado nos
princípios pitagóricos de cor e número.
Semelhantes às teorias da física moderna, os ensinamentos
de Pitágoras postularam que Deus (isto é, o universo) era circular e composto da
substância da luz (ou energia). Também ensinou que a natureza de Deus (isto é,
o universo) era a substância da verdade, a qual, como diriam alguns físicos de
hoje, é o padrão de inteligência objetiva que está subjacente em todos os
fenômenos.
A filosofia de Pitágoras baseia-se em números, com os
números de um a dez constituindo a década sagrada. Cada número contém poder e
significado numa vasta gama de experiência humana.
Número um simboliza o que é separado, inteiro e estável;
é o começo c o fim; é a mente.
Dois é a morte, a ciência, as gerações, tudo o que é dual
e todos os opostos.
Três é a paz, justiça, prudência, devoção, temperança e
virtude.
Quatro abrange a harmonia, o vigor, a virilidade, a
impetuosidade, e é chamado "a fonte da Natureza".
Cinco governa a reconciliação, a alternação, a
cordialidade, a vitalidade, a saúde e a providência.
Seis é tempo, panacéia, o mundo e a suficiência.
Sete é o número da religião, vida, fortuna e sonhos.
Oito é amor, lei e conveniência.
Nove simboliza o oceano, horizonte, fronteiras e
limitações.
Dez é a idade, o poder, a fé, a memória e a necessidade.
Segundo Pitágoras, a espantosa harmonia no universo, seja
musical ou moral, pode ser explicada e vivenciada como números.
Com os anos descobriu-se que a harmonia matemática,
quando conjugada com as harmonias da cor, equilibra e centra a mente,
tornando-a mais receptiva às energias externas do universo.
Fechando os olhos e decompondo a luz em suas cores
componentes, como num prisma, e contando regressivamente de sete a um, podemos
baixar as nossas ondas cerebrais de beta para alfa, o transe ligeiramente
alterado para o qual deslizamos durante o dia quando estamos ”perdidos" em
devaneios, rabiscando numa folha de papel, correndo, escutando música atraente
ou meditando. Em todos esses estados, visualizamos espontaneamente, vemos
quadros ou escutamos informação.
Em alfa podemos diagnosticar doenças, enviar energia
curativa para outros, absorver conhecimentos importantes, vigiar seres queridos
onde quer que estejam, recuar ou avançar no tempo (pois as categorias mentais
de tempo e espaço estão suspensas em alfa) e criar mudanças no mundo material
desde que seja para o bem de todos e não prejudique ninguém.
De um modo geral, fomos condicionados para não dar valor,
apreciar ou induzir as espécies de atividade que promovem o estado alfa: fitar
o vazio por um certo período de tempo, devanear, deixar a mente divagar,
observar silenciosamente sem o incessante diálogo interior que conversa e
comenta sobre tudo o que vivenciamos. Não recordamos, registramos ou
recapitulamos os nossos sonhos noturnos.
Algumas pessoas dedicam-se superficialmente à Feitiçaria
pensando que, uma vez adquiridos poderes mágicos, elas estarão aptas a ignorar
ou até a subverter as leis físicas do universo para seus próprios fins
egoístas. Que rude despertar o delas quando se dão conta de que estar informado
sobre os processos da magia significa trabalhar tanto com as leis físicas
quanto com as superiores.
A CONTAGEM REGRESSIVA DE CRISTAL
Alfa é o ponto de partida para todas as operações
psíquicas e mágicas. É o cerne da Feitiçaria. O estado alfa é a base científica
para a magia. Para desenvolver os próprios poderes psíquicos e aprender os métodos
da Arte é imprescindível aprender a controlar alfa. O seguinte exercício
ensinará a fazer precisamente isso. É simples mas de extrema importância. Deve-se
dominá-lo primeiro antes de passar a qualquer outro sortilégio, ritual ou
exercício.
Ler na íntegra as instruções para a Contagem Regressiva
de Cristal repetidas vezes antes de tentar fazê-la. Assegurar-se de que está
familiarizada com todas as fases antes de começar, porque não poderá deter-se no
meio do exercício para consulta.
Para colocar-se em alfa, procurar um lugar tranqüilo,
sentar-se confortavelmente, fechar os olhos e passar um minuto respirando
profundamente e relaxando.
• Quando se sentir centrada, ou equilibrada, mantenha os
olhos fechados e com o Terceiro Olho — o olho da mente - visualize uma tela
vazia (como uma tela de televisão) cerca de 30 centímetros à sua frente e logo
acima das pálpebras. Na realidade, a tela em que o Terceiro Olho projeta
imagens cerca-lhe toda a cabeça como um capacete, mas a maioria das pessoas somente
vê imagens no segmento frontal.
É possível que note os olhos pestanejando um pouco, embora
continuem fechados. Podem tender até a revirar-se de baixo para cima, como se
isso ajudasse a ver melhor a tela.
Trata-se de um reflexo automático porque as pessoas estão
treinadas para "ver" unicamente com os olhos abertos e fixados no
objeto que se está vendo. Chega agora o momento de treinar para ver sua mente.
Com o tempo, o pestanejar cessará. Não esqueça que em alfa não é necessário
"ver" com os olhos físicos.
Está-se olhando com o olho da mente.
Em seguida, na tela veja um número sete em vermelho. Se este
não aparecer com facilidade, tentar ver apenas um sete ou apenas um campo
vermelho. Se tiver dificuldade em esparrinhar as cores na tela, recordar algum
objeto que seja da cor que quer visualizar e ver com o olho da mente — por
exemplo, um carro vermelho de bombeiros, uma laranja, uma banana amarela.
Praticar isso até ser capaz de ver o campo de cor. Com o
tempo, será capaz de colocar o sete no campo vermelho e, finalmente, verá o
sete vermelho.
Não desanime. Lembre-se de que a sociedade nos disse que não
é natural "ver" com os olhos fechados ou que somente sonhos e
alucinações — coisas que não são "reais" – aparecem quando fechamos
os olhos.
Quando enchergar o sete vermelho, retenha-o por um
momento e depois solte-o. Visualize em seguida um seis laranja, retê-lo e soltá-lo.
Prosseguir de cima para baixo ao longo do espectro de cores: um cinco amarelo,
um quatro verde, um três azul, um dois índigo e o um lilás.
Essa seqüência cromática é uma realidade científica
universalmente reconhecida. Apresenta-se no arco-íris e em toda decomposição
prismática da luz. Esse espectro de cores ou arco-íris é também uma poderosa
imagem arquetípica em todas as culturas. É freqüentemente um símbolo para
outras realidades mágicas e novos mundos. No Gênese, o arco-íris é sinal de um recomeço
para a sociedade humana após o Dilúvio — uma promessa do Jeová de que não o faria de novo. A Rainbow
Coalition na política americana promete uma nova era de harmonia racial e
cooperação. Os índios norte-americanos viram o arco-íris como um reflexo da
unicidade em meio à multiplicidade na natureza e o ideal de paz e equilíbrio
entre todas as criaturas. No folclore céltico, o arco-íris indicava a presença
de gnomos, fadas e um possível vaso de ouro. Os mitos nórdicos falam de uma
ponte de arco-íris, Bifrost, a qual só os deuses podem atravessar. No folclore
moderno, o arco-íris separa a banalidade do Kansas dos esplendores de Oz.
O dois índigo é realmente uma cor mais carregada e de nível
inferior ao que se necessita, de modo que, quando o um violeta (ou lilás)
aparece, sentir-se-á a percepção ligeiramente realçada. Quando se fixa no um
lilás, contar regressivamente de dez a um mas agora sem cores, para aprofundar
o estado alfa.
Dizer então mentalmente para si mesmo, com toda a
convicção:
"Estou agora em alfa, e tudo o que fizer será
acurado e correto, e assim é."
Neste ponto, executar-se-á a tarefa que tiver sido
previamente decidida.
Ter em mente que o estado alfa não é como estar
adormecido.
Muito embora tenha sido feita a contagem regressiva, você
esteja relaxado e tenha os olhos fechados, ainda se encontra no controle total
do que lhe acontece. Ouvirá sons á sua volta e terá plena consciência do local
onde se encontra. A qualquer momento que sinta como se quisesse sair de alfa,
poderá fazê-lo.
De fato, a qualquer momento que sinta querer recomeçar,
você pode.
Quando tiver concluído a sua tarefa e desejar retornar ao
que a ciência chama o nível beta das ondas cerebrais, ou à consciência vígil
normal, apague com as mãos o que está na tela.
Depois, ainda em alfa e ainda de olhos fechados, dê-se
uma total desobstrução de saúde da seguinte maneira: Colocar a mão uns 15 cm
acima da cabeça, a palma voltada para baixo. Depois, num movimento suave,
abaixar a mão para diante do rosto, peito e estômago, ao mesmo tempo que volta
a palma para fora e estende o braço para a frente. Dizer para si mesmo:
"Estou me curando e a minha saúde está totalmente desobstruída.'' Isso deve
ser feito todas as vezes que se preparar para sair de alfa. Por meio desse
simples procedimento, serão eliminadas quaisquer energias perniciosas que
estiverem presentes, e você projetará uma imagem forte e saudável de si mesmo.
Em seguida, contar lentamente de um a dez, depois de um a
sete. Não é necessário ver cores quando se conta progressivamente, uma vez que
se está voltando à luz plena e as cores convergirão por conta própria assim que
se abrir os olhos.
Pode-se, é claro, interromper alfa repentina e
simplesmente abrindo os olhos, mas não aconselho isso. Ser arrancado de forma
brusca de um sono profundo ou sonho é sempre desorientador, e algo parecido
ocorre quando se sai de alfa
depressa demais. Conte-se progressivamente, abrindo os
olhos devagar e dando-se conta de sua presença na sala.
Esse procedimento básico para ingressar em alfa é a chave
para todo trabalho futuro na nossa Arte. Pratique-o todos os dias, durante
cinco semanas, pelo menos, a fim de o aperfeiçoar. Quando se sentir mais à
vontade e proficiente na contagem regressiva para alfa, entrará em alfa com extrema
facilidade e sentir-se-á perfeitamente cômoda nele. E assim deve ser, pois alfa
é um estado natural, no qual se ingressa todo dia ou toda noite em sonhos e
devaneios. A única diferença é que com a Contagem Regressiva de Cristal estamos
controlando e usando esse estado consciente e deliberadamente para trabalho psíquico.
Grasi Marchioro
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