O criador universal:
Viracocha!
Viracocha, Wiracocha ou Huiracocha (em quíchua: Apu Kun
Tiqsi Wiraqutra) é a divindade invisível, criadora de toda a cosmovisão inca,
considerado como o esplendor original, o Senhor, Mestre do Mundo, sendo o
primeiro deus dos antigos tiahuanacos, que provinham do lago Titicaca, de cujas
águas teria surgido, criando então o céu e a terra. É o arquétipo da ordem do
universo no ser humano.
Deus andrógino criado por si mesmo, hermafrodita, imortal,
introduzido durante a expansão Wari-Tiwanaco, é o deus principal, criador do
Universo e tudo que nele existe: a terra, o sol, os seres humanos, as plantas,
adotando distintas formas, e se acreditava que ele estava em toda parte.
O culto ao deus criador supõe um conceito que abrange o
abstrato e o intelectual, e era destinado apenas à nobreza
Este deus, ou Huaca, aparentemente também está presente na
iconografia dos habitantes de Caral e de Chavín, antigas cidades no atual
território do Peru.
Em quechua, tiqsi significa "fundamento, base,
início"; enquanto que wiraqutra provém da fusão dos vocábulos: wira
(gordo) e qutra (que contém água - lago, lagoa). Na simbologia dos antigos
andinos, a gordura era um símbolo da energia, e a água o elemento capital do
ciclo vital do universo.
Quando os primeiros cronistas chegaram à América, a língua
espanhola estava ainda em plena evolução, carecendo de normatização em seu
alfabeto. Em tais casos, era comum o uso do V como o U para representar
indistintamente a vogal u, e a semi-consoante W, que hoje tanto se escreve com
U ou HU, naquele idioma. Por esta razão a grafia do nome deste deus foi
largamente transliterada como Viracocha, e ainda outros escreviam Huiracocha ou
Huiraccocha. Em outras versões seu nome era Ticci, Tiki ou Teisi.
Viracocha, assim como outras deidades, era nômade e tinha um
companheiro alado - o pássaro Inti, uma espécie de ave mágica, conhecedora do
presente e do futuro, representada nos mitos orais como um colibri com asas de
ouro (Quri qinqi).
Na mitologia inca atribui-se a este deus todo-poderoso a
faculdade de dirigir a construção de tudo que é visível e invisível.
Organizando o universo em três mundos relacionados entre sí, em dualidade e
harmonia.
Hanan Pacha: o mundo de acima, habitam os seres celestes,
constelações, astros, raios, estrelas, arco-íris, nuvens.
Kay Pacha: o mundo daqui, convivem os seres terrestres, as
montanhas, os lagos, os homens, os animais, as plantas.
Uchu Pacha: o mundo subterrâneo, vivem os mallquis que são
as sementes, os ancestrais enterrados para que na terra nasçam os homens novos.
Estes mundos estão relacionados através da Yacumama e
Sachamama que os atravessam:
Yacumama é o poder das águas e da fecundidade. No mundo de
acima é o raio, no mundo terreno é o rio, e no subterrâneo é a serpente.
Sachamama é o poder da fertilidade, que no mundo de acima é
o arco-íris, aqui no terrestre é a árvore, e no subterrâneo é a serpente de
duas cabeças, uma em cada extremidade.
Entre esse mundo interior ou subterrâneo, existe uma
comunicação física através dos orifícios da terra, covas, crateras, lagoas,
denominadas genericamente de pacarinas, relacionadas à origem dos seres
viventes.
Entre o mundo terreno e o celeste, a comunicação se torna
ideal. O homem se converte no mediador e intérprete dos mundos.
Iniciou sua obra no mundo dos antigos (ñawpa pacha),
talhando na pedra as figuras dos dois primeiros seres humanos, dos primeiros
homens e mulheres que vão tornar-se os fundamentos de seu trabalho.
Quando Viracocha coloca estas estátuas nos vários lugares
que lhes correspondem e, e lhes dá nome, animam-se ganham vida na escuridão do
mundo primitivo (ñawpa pacha), posto que não havia ainda o deus cuidado de dar
luz à Terra, que era então iluminada apenas pelo claror de Titi, um puma
selvagem e chamejante, que vive no alto do mundo - certamente o jaguar que se
entrelaça com outros animais nas representações totêmicas do Império Inca e das
culturas pré-inca e incas.
O mundo visível chama-se Kay Pacha, mas ainda está
incompleto porque Viracocha postergou o labor de criação completa do mundo, com
o nascimento dos seres humanos que vão desfrutar dele.
Satisfeito com os homens, o deus prosseguiu em seu projeto,
agora pondo em seu lugar devido os filhos Sol (Inti), a Lua (Mama Quilla), a
infinitas estrelas, até cobrir toda a abóboda celeste com suas luzes.
Depois, Viracocha dirige-se ao norte para, a partir de lá,
chamar ao seu lado as criatura que ele acabara de dotar com vida própria.
A partir de Tiahuanaco, Tiqsi Huiracocha delegou as tarefas
secundarias da criação a seus dois ajudantes, Tocapu Huiracocha e Imaymana
Huiracocha, que iniciam imediatamente as rotas do leste e oeste dos Andes, para
- a cada instante nestes largos caminhos dar vida e nome a todas as plantas e
animais que vão fazendo aparecer sobre a face da terra, na sua linda missão de
auxiliar e complementar a obra realizada antes por seu deus e senhor
Huiracocha, missão que terminam junto a a orla do mar, para depois mergulhar
regiamente nas suas aguas, uma vez cumprida a tarefa ordenada pelo deus criador
principal do universo e dos incas e pre-incas ao que parece desde a época de
Caral.
Nos mitos orais Huiracocha mostra-se como um sábio
governante da época de Caral que ditou as leis da economía de retribuição
(trueque, sistema de distribuição do trabalho) como também da Ayllu a grande
unidade familiar andina. Viracocha logo ascendeu a categoría divina, igual a de
todos os grandes governantes pre-incas e incas.
Devido a ser o principal icone da mitologia inca, no
vocabulário moderno, em todo os Andes centrais, é um nome de tratamento de
respeito como senhor.
Deus andrógino criado por si mesmo, hermafrodita e imortal,
Viracocha teria criado o Universo e tudo que nele existe, e se acreditava que
ele estava em toda parte. Era considerado como o esplendor original, o Senhor,
Mestre do Mundo, a divindade invisível criadora de toda a cosmovisão andina. É
o arquétipo da ordem do universo no homem.
Acredita-se que Viracocha saiu do Lago Titicaca para trazer
ordem ao caos. Ele dividiu o Universo em três mundos: Hanan Pacha (o mundo de
acima, o céu representado pelo condor), Kay Pacha (o mundo daqui, a terra
representada pelo puma) e Uchu Pacha (o mundo subterrâneo representado pela
serpente). É importante notar que, se Viracocha saiu do Lago Titicaca e o lago
é a representação de Mama Cocha, a deusa seria ainda mais primeva que o deus
criador.
Iniciou, então, sua obra no mundo antigo, talhando na pedra
com sua respiração as figuras dos primeiros seres humanos, homens e mulheres
que se tornaram o fundamento de seu trabalho. Quando o deus colocava estas
estátuas gigantes nos vários lugares que lhes correspondiam, eles ganhavam vida
na escuridão. Kay Pacha, o mundo visível, estava incompleto, uma vez que
Viracocha postergou a criação das coisas para se ater aos seres humanos. Apenas
o claror de Titi - um puma flamejante que vivia no alto do mundo - era
percebido. A raça de gigantes começou a desobedecer Viracocha, que enraivecido,
lançou um dilúvio que lavou a terra e transformou os gigantes novamente em
pedra (formando montanhas, morros, montes...).
Viracocha trouxe, então, a luz para o mundo, fazendo o Sol
(Inti), a Lua (Mama Quilla) e as estrelas nascerem do Lago Titicaca, até cobrir
toda a abóboda celeste. Depois fez novos seres humanos do barro e os deixou em
cavernas, de onde saíram para a superfície da terra. Satisfeito com esses novos
homens, o deus definiu o tempo ao ordenar que Sol se movesse sobre a Lua.
Em seguida, foi dando vida aos animais e as plantas. Nesse
caso específico, são inúmeros os relatos de que ou Viracocha teve dois filhos
ou que criou dois seres especiais responsáveis por criar fauna e flora na
terra: Imahmana Viracocha e Tocapo Viracocha. No entanto, é mais provável que o
próprio deus ou tenha se dividido em dois ou tenha somente mudado de nome de
acordo com a direção que seguiu no mundo.
As representações de Viracocha o adornavam com uma coroa de
sol, raios (ou báculos) nas mãos e lágrimas saindo de seus olhos, mostrando sua
ligação com as variações climáticas. Existem versões que o apontam como um
homem branco de estatura mediana que usa vestes brancas e carrega um cajado e
um livro. Nestes casos, é possível que seja o momento que Viracocha se infiltra
na civilização para ensinar e ajudar.
Uma história interessante pode nos mostrar como são criadas
as mitologias. É dito que Inti era o supremo deus sol dos incas, até que
Pachacutec, o nono governante do império inca e seu primeiro imperador,
observando seu movimento no céu, disse para seus servos:
— Eu sou o imperador e vocês me obedecem. Se eu mando vocês
andarem daqui para ali, vocês me obedecem. O grande Inti viaja pelos céus todo
dia de leste para oeste. Então, alguém ainda maior deve mandar ele fazer isso e
ele obedece. Esse alguém é Viracocha e dele sou herdeiro.
Essa é uma lenda contada pelo povo peruano que nos mostra
perfeitamente a origem humana de todas as mitologias e divindades do mundo.
Que sejam prósperos.
Raffi Souza.