23 março 2018

A deusa caçadora: Ártemis!


A deusa caçadora: Ártemis!



Ártemis, deusa grega, ou Diana, como era conhecida entre os romanos, divindade responsável pelas atividades da caça, é representada como uma imagem lunar arisca e selvagem, constantemente seguida de perto por feras selvagens, especialmente por cães ou leões. Ela traz sempre consigo, no abrigo de suas mãos, um arco dourado, nos ombros um coldre de setas, e pode ser vista trajando uma túnica de tamanho curto.
Dizem que quando ela ainda era uma criança, Zeus a questionou sobre seu maior desejo para seu aniversário, e ela lhe pediu, sem hesitar, que pudesse circular livremente pelas matas, ao lado dos animais ferozes, dispensada para sempre da obrigação de se casar. O pai imediatamente realizou seu sonho.
Esta deusa famosa dos gregos foi concebida por Zeus e Leto e era irmã gêmea de Apolo – enquanto ele simbolizava a luz solar, ela representava a esfera lunar. Esta poderosa figura é sempre encontrada, em qualquer mito que seja, correndo por bosques, florestas e matas, livre como um pássaro, ensaiando suas coreografias e cantando ao lado das ninfas que lhe são muito próximas.
Nas festas em homenagem à lua eram sempre executadas danças de extrema sensualidade e havia constantemente a presença de um ramo considerado sagrado. Ártemis é considerada tanto uma prostituta sagrada quanto uma virgem responsável pelos partos, pois os mitos a retratam igualmente como o bebê que nasceu primeiro e ajudou a mãe a parir o irmão Apolo.
Embora pareça contraditória esta personalidade ambígua de Ártemis, na verdade ela está associada a dupla faceta do feminino, que protege e destrói, concebe e mata. Esta imagem da deusa é difundida especialmente na Ásia Menor. Não se sabe exatamente onde e quando surgiu seu culto, pois os autores que estudam o mito divergem quanto a este ponto.
Alguns pesquisadores acreditam que seu nascimento remonta às tribos da Anatólia, exímias caçadoras, consideradas berços das famosas amazonas. Outros crêem que ela descende da divindade Cibele, protetora da Natureza, cultuada na Ásia Menor, também representada como uma Rainha das Feras, rodeada por leões, veados, pássaros e outros exemplares da fauna.
Há estudos que situam Ártemis ao lado de outras potências lunares, tais como Hécate, também associada às esferas infernais, e Selene; as três compunham uma espécie de trindade da Lua. Os italianos a conhecem como Diviana, expressão que pode ser traduzida como Deusa, e pode ser facilmente ligada ao nome Diana.
Na Itália eles comemoravam sua festa no dia 13 de agosto, quando os cães de caça tinham seu momento de glória e os animais ferozes eram deixados à vontade. Este evento foi consagrado pela Igreja como um culto católico que marca a Assunção de Nossa Senhora, transferido para o dia 15 de agosto.
Esta deusa da fertilidade animal tinha várias discípulas, que eram denominadas ursas. Elas reconheciam sua natureza autoritária e repressora. Os animais ferozes que estão sempre junto a ela representam, por outro lado, os impulsos que precisam ser dominados. Sem dúvida ela é o símbolo maior do feminino, de sua liberdade e autonomia.
Artemis era a mais popular das deusas do panteão grego, filha de Zeus e Leto, a irmã gêmea de Apolo. Conta a lenda que quando sua mãe estava grávida, sendo perseguida por Hera, a esposa de Zeus que odiava as amantes do marido, impedia que os filhos de Leto nascessem em qualquer lugar. Grávida de gêmeos, Leto chegou à Ilha de Delos onde nasceu primeiro Artemis que ajudou no parto de seu irmão, sendo esta a razão porque Artemis era invocada para auxiliar no trabalho de parto das mulheres. Os romanos a associavam com a deusa Diana.
Com uma mão ela protegia a vida, na outra ela trazia a ruína. Junto com Ilithyia ela ajudava as mulheres grávidas no parto sem dor. Se uma mulher morresse durante o parto, acreditava-se que ela havia sido atingida por uma flecha de Artemis. Ainda assim, as roupas da mulher falecida eram oferecidas à deusa. Noivas e noivos, principalmente as jovens virgens, pediam sua proteção mas eram obrigados a oferecer à deusa seus brinquedos. As moças deviam deixar as tranças de seus cabelos no altar de Artemis, e assim estariam liberadas dos domínios da deusa.
Artemis também era considerada como deusa da vegetação e da fertilidade. Era a deusa da natureza intocada em conexão ao culto das árvores e qualquer um que sacrificasse uma árvore era punido pela deusa. Nos cultos oferecidos à deusa os gregos dançavam com os ramos sagrados. Apesar de ser venerada na Grécia, seu culto era especial na Arcádia, pois ali ela vivia afastada nos bosques selvagens e intocados, e era a mais virginal das deusas.
O Rei de Calidon esquecendo-se de oferecer a Artemis os primeiros frutos da colheita anual, foi castigado pela deusa que enviou um enorme javali ao reino, que atacava pessoas e animais, impedindo que a terra fosse novamente semeada. Embora o rei tenha chamado os mais nobres guerreiros para caçar o javali, somente Atalanta conseguiu vencê-lo. Também castigou Erisicton quando ele derrubou as árvores frutíferas consagradas a Demeter.
Acompanhada das ninfas, suas seguidoras, ela vagava por bosques e prados com seu arco e flechas, por isso era representada como protetora dos caçadores e senhora dos animais. Era uma deusa impiedosa quando ofendida e punia severamente os ofensores. Quando Agamemnon matou um cervo consagrado à deusa, ela segurou os ventos impedindo que ele partisse com seu barco, e exigiu que ele sacrificasse sua filha Ifigênia para liberar os ventos. Porém, apiedou-se de Ifigênia, que se tornou sua seguidora.
Artemis vivia na rica terra de Delfos comandando a dança das Musas e das Graças sob a luz prateada da lua. Como uma deusa virginal, suas seguidoras também deviam ser virgens. Ela as protegia e punia todos os homens que ousassem tocá-las ou vê-las banhando-se nas fontes. Artemis não odiava os homens, mas exigia que eles respeitassem as mulheres. Sua ruina foi querer provar sua habilidade de caçadora, e a pontaria certeira de suas flechas.
Órion caçava em companhia de Ártemis mas seu irmão Apolo pretendia protegê-la. Um dia Apolo mandou o Escorpião Celestial matar Órion e quando ele percebeu que não conseguiria vencer o monstro, se jogou no mar e saiu nadando acompanhado por seu cão Sírius. Imediatamente Apolo chamou a irmã e a desafiou a acertar um pequeno e distante ponto no mar. Para provar que era era eximia atiradora, Artemis acertou o ponto no mar. Quando as ondas chegaram à praia, trouxeram o corpo de Órion. Inconsolável, Ártemis o transformou na constelação de Órion e Sirius se tornou uma estrela que faz parte da constelação Cão Maior.
Ártemis era celebrada quando o Sol passava pelo signo de Sagitário, em 22 de novembro. Está representada como a virgem atleta personificando a força e o instinto de caçadora, protetora das florestas e dos animais. É uma deusa lunar representando o poder feminino em todos os aspectos, a parteira, aquela que é íntegra em si mesma. Essa deusa é a mais completa das doze divindades olímpicas, padroeira das crianças e dos nascimentos, a deusa guerreira das Amazonas. Seu maior atributo é a individualidade, vivendo livre e correndo velozmente pelas florestas, sempre acompanhada por seus cães.
As lendas gregas exaltavam muito o princípio casto e virginal das deusas, isto porque a castidade tem uma significação ampla além da voluntária abstinência sexual e abrange outras virtudes humanas, que são o resultado da soma de valores superiores, que requer um compromisso pleno consigo mesmo, permanecendo na sua integridade.
O conceito de fidelidade é muito mais abrangente do que o concebe a compreensão popular. Fidelidade é um atributo elevado, primeiramente da pessoa para consigo mesma, interiormente, de tal modo que quando é fiel ao outro, certamente é primeiramente fiel em seu íntimo. Assim, quem é fiel é casto; quem é casto é fiel.
O primeiro efeito do amor é a união indissolúvel de corações, e por extensão, a fidelidade é inviolável na pureza de intenções e honestidade no relacionamento. A fidelidade representa o amor e respeito ao próximo, é ser sincero aos seus compromissos e escolhas, é abnegação aos desejos de cobiça, é ter compromisso e não apenas envolvimento. A castidade conjugal significa fidelidade ao cônjuge e aos compromissos assumidos no matrimônio. A castidade está presente no pudor que protege a intimidade e consiste no temor de realizar um ato indecoroso ou indigno.
O pudor é o sentinela de defesa da castidade. É a humildade e sobriedade que torna a pessoa incapaz de exaltar-se no comportamento desordenado. É a diligência e cumprimento das próprias obrigações prevenindo os males da ociosidade. Inclui ainda a caridade e piedade, que não se ocupa de afetos desordenados. Casta é a mente que se preserva de pensamentos brutais e violentos, e se mantém, primeiramente, na pureza da alma.
Artemis é o arquétipo da mulher que tende a ajudar e defender outras mulheres e usa um escudo emocional nos envolvimentos afetivos. Sujeita a ataques e rompantes emocionais, em muitas ocasiões ela costuma reagir cruelmente quando está pressionada em assuntos do amor. Em geral, é uma grande amiga e representa um tipo de feminismo que deseja equiparar-se aos homens, de igual para igual. Sua sexualidade tende a se manifestar de forma masculina e muitas vezes adia a maternidade em função de outras metas ou opta por uma gravidez independente.
Enfrenta os desafios, é objetiva e busca superar a si mesma. De natureza indócil diante das injustiças, o seu aprendizado consiste em aprender que o fato de ser justiceira não impede que ela desenvolva um temperamento doce e desarmado. A diferença entre homens e mulheres é um fato e a busca da igualdade radical não faz sentido, pois é justamente no equilíbrio entre as diferenças, que a coexistência entre homens e mulheres se torna mais harmoniosa.
Em Roma, Diana era a deusa da lua e da caça, filha de Júpiter e de Latona, e irmã gêmea de Apolo. Era muito ciosa de sua virgindade. Júpiter forneceu-lhe um séquito de sessenta oceânidas e vinte ninfas que, como ela, renunciaram ao casamento. Indiferente ao amor e caçadora infatigável, Diana era cultuada em templos rústicos nas florestas, onde os caçadores lhe ofereciam sacrifícios. Na mitologia romana, Diana era deusa dos animais selvagens e da caça, bem como dos animais domésticos.
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Diana foi cedo identificada com a deusa grega Ártemis e depois absorveu a identificação de Ártemis com Selene (Lua) e Hécate (ou Trívia), de que derivou a caracterização triformis dea ("deusa de três formas"), usada às vezes na literatura latina. O mais famoso de seus santuários ficava no bosque junto ao lago Nemi, perto de Arícia.
Ártemis, é a mais antiga de todas as Deusas gregas. Alguns autores traçam suas origens às tribos caçadoras de Anatólia, que teria sido a morada das míticas amazonas. Outros afirmam sua descendência provêm da grande deusa da natureza Cibele, na Ásia Menor, uma Senhora das Feras que costumava estar sempre rodeada de leões, veados, pássaros e outros animais. Mas de acordo com Walter Burkert em "Greek Religion", é provável que Ártemis remonte à era paleolítica, pois em sua homenagem os caçadores gregos penduravam os chifres e peles de suas presas numa árvore ou em uma pilastra em forma de maçã.
ARQUÉTIPO DA MÃE DOS ANIMAIS
Ártemis /Diana era o ideal e a personificação da vida selvagem da natureza, a vida das plantas, dos animais e do homens, em toda sua exuberante fertilidade e profusão.
Na Itália chamaram-na Diviana, que significa a Deusa, um nome que é mais familiar, pois é bem similar ao seu nome original Diana. Ela era de fato a Caçadora, Deusa da lua e mãe de todos os animais. Ela aparece em suas estátuas coroada com a lua crescente e carregando uma tocha acesa. A palavra equivalente em latim para vela era "vesta" e Diana era também conhecida como Vesta. Assim, o feixe de lenha, no qual ela veio da Grécia era realmente uma tocha não acesa. No seu templo, um fogo perpétuo era conservado aceso.
A DEUSA E O XAMANISMO
Era muito comum o xamã usar uma pele de urso para que o Grande Espírito dos ursos possa falar por seu intermédio. Nestas práticas visualizamos claramente uma continuidade com a Ártemis grega posterior, cujos principais animais totêmicos eram o urso e o veado. Até a raiz de seu nome, "art", está ligada à raiz indo-europeia da palavra urso. Muitos mitos envolve Ártemis com os ursos. Nas primeiras histórias gregas ela aparece como uma ursa ao lado de seus filhotes.
Existiu inclusive, um rito de iniciação à deusa, onde meninas com menos de 9 anos, dançavam com pele de urso a dança do urso em seu templo. Bodes eram sacrificados nestas cerimônias, para que tais jovens pudessem conhecer também o lado sombrio da Deusa-Lua e os seus mistérios sangrentos da morte, sacrifício e renovação.
Aqui se descortina também, o aspecto feroz e sanguinário de Ártemis, a própria Mãe da Morte, que tem que ser aplacada com oferendas vivas. Os gregos mais sofisticados de Atenas, com o tempo, resolveram sentimentalizá-la, pois eles não ousavam encarar de frente este seu aspecto sanguinário
Que sejam prospero.
Raffi Souza.

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