A deusa das Sortes: Tyche!
Na mitologia grega, Tique (Τύχη, Tyche, "acaso",
"sorte") era a divindade que governava a fortuna, a prosperidade e o
destino de uma cidade. Os romanos a chamaram Fortuna, palavra que parece
derivar de Vortumna, "a que faz girar o ano".
Segundo a Teogonia de Hesíodo e os hinos homéricos, Tique
era uma das oceânidas, filha de Oceano e Tétis, mas os hinos órficos a chamavam
filha de Zeus e o poeta Alcman a considerou filha de Prometeu.
O historiador grego Políbio escreveu que, quando não se
podia descobrir causas naturais de eventos como inundações, secas ou geadas,
elas podiam ser corretamente atribuídas a Tique.
O pseudo-Higino registrou que alguns associavam a Tique a
constelação da Virgem, mais frequentemente identificada com Dike.
Tique era também chamada pelos gregos Agathê Tykhê (Boa
Fortuna), Eutykhia (Boa Sorte), Akraiê (Das Alturas), Automatia ("Movida
por si mesma", isto é, caprichosa), Meilikhios (Gentil) e Sôtêria
(Salvadora).
As invocações romanas incluíam Fors Fortuna (Poderosa
Fortuna), Fortuna Annonaria (sorte nas colheitas), Fortuna Belli (sorte na
guerra), Fortuna Primigenia (sorte do primogênito ao longo de sua vida),
Fortuna Virilis (a sorte de um homem e de sua esposa), Fortuna Redux (a sorte
no retorno para o lar), Fortuna Respiciens (a sorte do provedor), Fortuna
Muliebris (sorte de uma mulher solteira), Fortuna Victrix (sorte na batalha),
Fortuna Augusta (sorte do imperador), Fortuna Balnearis (sorte dos banhos),
Fortuna Conservatrix (sorte na conservação dos bens), Fortuna Equestris (sorte
dos cavaleiros), Fortuna Huiusque (sorte no dia de hoje), Fortuna Obsequens
(sorte ao receber indulgências), Fortuna Privata (sorte de um cidadão privado),
Fortuna Publica (sorte do povo), Fortuna Romana (sorte de Roma) e Fortuna Virgo
(sorte de uma virgem).
Em vasos antigos, Tique era frequentemente representada ao
lado de Nêmesis ("Castigo"), sempre disposta a frear e controlar os
favores extravagantes que a companheira distribuía.
No período helenístico, muitas cidades, principalmente as do
Egeu, tiveram sua própria versão de Tique e a representaram em suas moedas.
Geralmente usa uma coroa mural (semelhante a uma muralha) e pode segurar um
leme, para guiar e administrar os negócios do mundo (nesse aspecto considerada
uma das Moiras), uma bola, para representr a variabilidade da sorte, instável e
capaz de rolar em qualquer direção; e com Pluto, "riqueza",
representado como uma criança, ou a Cornucópia, para simbolizar os dons
generosos da fortuna.
Na arte greco-budista de Gandara, Tique foi associada a
Hariti, entidade maligna da mitologia budista.
Na Idade Média, como alegoria, Tique era representada
carregando uma cornucópia, um leme de navio e a roda da fortuna, ou então
ficava de pé sobre a roda, presidindo sobre o ciclo do Destino. A própria roda,
isolada, também era sua representação. A primeira referência à roda como
emblema das mudanças intermináveis da vida entre a prosperidade e o desastre
ocorre em In Pisonem de Cícero, cerca de 55 a.C.
Apesar da proibição do culto de Fortuna por Teodósio I, seu
uso como figura alegórica foi reabilitado pelo filósofo cristão Boécio, na
Consolação da Filosofia (524 d.C.), escrita quando foi condenado à morte,
leitura obrigatória de eruditos e estudantes durante a Idade Média. Nela, foi
formulada uma teologia cristã do casus ("acaso"), segundo a qual as
voltas aparentemente fortuitas e frequentemente ruinosas da Roda de Fortuna são
na realidade inevitáveis e providenciais e até mesmo os eventos mais casuais
fazem parte do plano oculto de Deus ao qual não se deve tentar resistir.
Eventos, decisões individuais e a influência dos astros seriam meros veículos
da vontade divina.
Dessa obra, originou-se a popularidade da representação da
Roda da Fortuna, em miniaturas de manuscritos, vitrais de catedrais (como em
Amiens) e no arcano X do Tarô. A Fortuna é geralmente representada maior do que
um humano, para acentuar sua importância. A Roda costuma ter quatro estádios ou
fases da vida, com quatro figuras humanas, às vezes etiquetadas: à esquerda
regnabo ("reinarei"), no topo regno ("eu reino", uma figura
coroada), à direita regnavi ("reinei") e em baixo sum sine regno
("não tenho reino", uma figura humilde).
As representações medievais da Fortuna enfatizavam sua
dualidade e instabilidade, às vezes colocando-lhe dois rostos, à frente e
atrás, como em Jano; uma face sorrindo e outra franzindo o cenho; metade do
rosto branco e outro preto; vendada mas sem a balança, cega à justiça. Ocasionalmente,
suas roupas chamativas ou provocantes (ou nudez) e comportamento atrevido
sugerem uma prostituta.
Em tempos modernos, é frequentemente representada de maneira
mais ou menos satírica como Lady Luck, a "Dona Sorte", padroeira dos
jogadores, frequentemente vista como pin-up em calendários e tatuagens.
Na mitologia, Tique aparece como uma das companheiras de
Perséfone, que se divertiam com ela na pradaria quando ela foi raptada por
Hades.
A popularidade de Tique teve um primeiro auge na época
helenística, fascinada por enredos que envolviam viradas imprevisíveis da
fortuna e outro nos últimos tempos do paganismo greco-romano, outro período de
mudanças difíceis e imprevistas. A eficácia de seu poder caprichoso teve o
respeito dos círculos filosóficos dessa geração, embora entre poetas fosse
lugar-comum insultá-la como uma prostituta infiel e inconstante.
Em Lebadeia, na Beócia, os que desejavam consultar o oráculo
de Trofônio deviam primeiro permanecer alguns dias em um edifício consagrado a
Agathe Tykhe e Daimon Agathos.
Em Estefanépolis, no Epiro, tanques com peixes que recebiam
comida dos visitantes eram mantidos a cada lado do templo de Tique.
Em Roma, dizia-se que o culto foi introduzido ainda durante
o período etrusco, no reinado de Sérvio Túlio, o sexto rei (segundo Varrão) ou
de Ancus Marcius, o quarto rei (segundo Plutarco). O dia 11 de junho era
consagrado a Fortuna e havia um grande festival dedicado a Fors Fortuna no dia
24. Ela tinha um templo no Forum Boarium e um santuário público no Quirinal,
como gênio tutelar da própria Roma, Fortuna Populi Romani. Em Preneste (atual
Palestrina, no Lácio), havia um oráculo ligado ao templo de Fortuna Muliebris
onde o futuro era sorteado por um menino pequeno entre varas de carvalho com
possíveis sortes nelas escritas.
Ela era invocada em vários contextos domésticos e pessoais
como, por exemplo, na dedicação de um amuleto num guarda-louça da Casa de
Menandro em Pompeia, no qual ela foi sincretizada com a deusa egípcia Ísis para
se tornar Ísis-Fortuna. Ela era também associada ao deus Bonus Eventus (Bom
Evento), como sua contraparte em amuletos e camafeus espalhados pelo Império
Romano. Ela teve também templos importantes em Cesareia Marítima (atual
Tel-Aviv-Haifa), Antióquia, Alexandria e Constantinopla, antes que fossem definitivamente
fechados, junto com todos os demais templos pagãos, por Teodósio I.
Tique (em grego: Τύχη, transl. Tykhe, "sorte"),
nos antigos cultos gregos, era a divindade tutelar responsável pela fortuna e
prosperidade de uma cidade, seu destino e sorte – fosse ela boa ou ruim. Sua
equivalente na mitologia romana era Fortuna.
O historiador grego Stylianos Spyridakis expressou de
maneira concisa a atração de Tique para o mundo helenístico, repleto de
violência arbitrária e reveses desprovidos de significado: "Nos anos
turbulentos dos epígonos de Alexandre, uma percepção da instabilidade dos
assuntos humanos levou as pessoas a acreditarem que Tique, a amante cega da
Fortuna, governava a humanidade com uma inconstância que explicava as
vicissitudes da época." Durante o período helenístico era comum que cada
cidade venerasse sua própria versão icônica específica de Tique, vestindo uma
coroa mural (uma coroa com o formato das muralhas da cidade). Na literatura
estas versões recebiam diversas genealogias diferentes, por vezes como filha de
Hermes e Afrodite, ou consideradas uma das Oceânides, filhas de Oceano e Tétis,
ou Zeus Píndaro. Era associada a Nêmesis e Agatodemon ("bom
espírito"), e venerada em Itanos, na ilha de Creta, como Tyche
Protogeneia, associada à Protogenia ("primogênita") ateniense, filha
de Erecteu, cujo auto-sacrifício salvou a cidade.
Em Alexandria, o Tiqueão (Tykhaeon), templo de Tique, foi
descrito por Libânio como um dos mais magníficos de todo o mundo helenístico.
Tique aparece em diversas moedas nos três séculos que
antecedem o nascimento de Cristo, especialmente nas cidades ao redor do mar
Egeu. Mudanças imprevisíveis da fortuna são a força-motriz nas complicadas
tramas dos romances helenísticos, como Leucipe e Clitofonte ou Dáfnis e Cloé.
Seu culto experimentou um ressurgimento durante outro período de mudanças
turbulentas, os últimos dias do paganismo sancionado pelas autoridades, no fim
do século IV, entre o reinado dos imperadores romanos Juliano e Teodósio I, que
fechou definitivamente os templos. A eficácia de seu caprichoso poder alcançou
respeitabilidade até mesmo nos círculos filosóficos da época, embora entre os
poetas fosse um lugar-comum insultá-la como uma meretriz inconstante. Existiam
templos dedicados a ela em Cesareia Marítima, Antioquia, Alexandria e
Constantinopla.
Na arte medieval era representada portando uma cornucópia,
um timão emblemático e a Roda da Fortuna; por vezes é representada sobre esta
roda, presidindo sobre todo o círculo do destino. Na arte greco-budista de
Gandara, Tique tornou-se intimamente associada à deusa budista Hariti.
O historiador grego Políbio acreditava que, sempre que não
se descobrisse as causas de determinados eventos, tais como enchentes, secas ou
geadas, estas causas podiam ser atribuídas com justiça a Tique.
A constelação de Virgem por vezes é identificada como a
figura celestial de Tique, bem como outras deusas como Deméter e Astreia.
Na peça de Sófocles sobre Édipo, quando perguntam em qual
deidade ele acredita, Édipo responde que Tique, naquela época sinônimo de
acaso, ou acaso divino.
Que sejam prósperos.
Raffi Souza.
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